Opinião

Artes Visuais | Um prémio qualquer

8 set 2023 08:00

O Cova é do tipo de artistas que tem a sua profissão durante os dias úteis (topógrafo) mas que é uma explosão de criatividade em todos os outros momentos

António Cova (Leiria, 1977) é uma pessoa que todos devíamos ter em consideração. Ao longo dos anos tem-nos brindado com músicas, pinturas, esculturas, performances, actuações em teatro e em filme, poemas, entrevistas, encenações e instalações artísticas, direcções de filme e espectáculos... tudo em formato “do mais próximo de pro bono possivel”.

Em fevereiro tirou-me o tapete debaixo dos pés quando a FuloHD (dupla António Cova+Lisa Teles com curadoria do Ricardo Graça) nos apresentou Sports After Sex, uma instalação/performance na sede do A9)))).

Expuseram impressões de fotomontagens e ao lado de cada uma delas, estavam fatos de treino dos anos oitenta pendurados em cabides. Os autores selecionaram frames de filmes pornográficos, depois encenaram exactamente a mesma posição do actor masculino, mas vestido com os fatos de treino que ao lado víamos expostos.

As sobreposições encaixaram de forma soberba. Vemos de forma explícita, homens e mulheres a terem relações sexuais, mas os homens estão vestidos e a maior parte deles têm os genitais escondidos por emojis em forma de sorriso. Durante a inauguração projectaram os filmes na parede e com raquetes de ténis de praia com os mesmos emojis pintados, tentavam o melhor que conseguiam, embora com pouco sucesso, cobrir os genitais masculinos, como que a tentar replicar o que fizeram com as fotomontagens. O resultado foi um fartote de riso da assembleia de 15/20 pessoas. Comédia do mais alto nível, ali, a acontecer esta única vez, e apenas nós a usufruir de todo este trabalho brilhantemente concebido e executado. Que privilégio, lembro-me de pensar.

A folha de sala, brilhantemente escrita, dá-nos a conhecer de forma sarcástica e irónica a pseudo-história de cada um dos fatos de treino, que segundo os autores, foram leiloados e agora pertencem a colecções magnificas... ;)

A ideia para a exposição foi muito boa e a produção tinha a dignidade necessária para encaixar neste mundo meio brincalhão provocador.

O Cova é do tipo de artistas que tem a sua profissão durante os dias úteis (topógrafo) mas que é uma explosão de criatividade em todos os outros momentos. Tem conquistado o respeito e a admiração do público leiriense ao longo dos passados vinte anos, mas parece-me que nunca houve um reconhecimento público pelo tributo.

Alguém por favor entregue um prémio qualquer a este homem.