Opinião
Bom caminho até ao Natal!
O Mundo violento e tresmalhado anda nas notícias a par das luzes de Natal que se acendem nas cidades, e a par do outro, do muito bom, do que é feito pelos que salvam
Novembro chega ao fim nesta tarde de sol tímido de Outono, já de olhos postos no solstício de Inverno a dois passos do Natal. Tarde de chá, scones e lareira, findas que são as minudências impostas pelo quotidiano e pelo que sempre se inventa fazer quando se gosta da casa e da vida que se faz dentro dela. E por fim, tempo para a escrita que, prévia e mentalmente alinhavada, primeiro a pensar no Natal, depois a pensar na Casa, e mais tarde no Mundo tresmalhado em que vivemos, terminou a pensar nela (com letra grande).
A escolha do assunto foi sendo adiada à espera de uma natural inclinação para um deles que me deixasse por fim alinhar os pensamentos em palavras. Mas, sem vencedor, acabo por perceber que de algum modo os assuntos se ligam porque, se há Natal numa Casa, ele não pode ignorar o Mundo, e o meu mundo começou nela (com letra grande).
O Natal não é quando um homem quiser, não; é no dia dele. Tal como manda a lei dos festejos e comemorações que não sejam festas surpresa, para que se possa apreciar demoradamente o caminho tanto quanto a chegada, como sabiamente ensinou a raposa ao pequeno príncipe. E o caminho começa com a Casa a encher-se devagarinho de cor e de luz para um Natal de agora, e enchendo-se também, aos poucos, das lembranças dos Natais que já foram, de com quem já foram, e de como sempre foram, numa permanente construção da identidade da Família que vai dando chão aos que nos vão chegando.
Chão feito da atenção ao outro, que não apenas o familiar e o amigo, feito da escolha da alegria, da proximidade e da partilha em detrimento do consumo desenfreado, feito do empenho em encontrar o presente perfeito porque desejado e útil, como o são as camisolas, os livros, os bilhetes para um espectáculo e, sim, as meias quentes; a ela (com letra grande), dava-lhe este Natal um livro, cinco novelos de lã Elis, rosa velho, da casa Lopo Xavier, e um pacotinho de areias da Padaria Ribeiro.
Entretanto, o Mundo violento e tresmalhado anda nas notícias a par das luzes de Natal que se acendem nas cidades, e a par do outro, do muito bom, do que é feito pelos que salvam, como a que se bate por encontrar sustento para a casa de acolhimento que dirige, a que acolhe e dá caminho a refugiados, a que angaria tudo o que possa ser útil e o distribui depois por outros, e o que organiza e oferece um concerto a favor da casa de acolhimento da primeira. Tenho sorte.
Estes, e alguns mais que não mencionei, são meus amigos, e fazem com que nunca perca de vista a melhor forma de se ser verdadeiramente humano. Afinal, o tempo do Advento, para os católicos, coincide com toda a preparação do tempo de Natal laico tanto nas cidades como nas famílias, e é um caminho, uma antecipação, uma espera por seja o que for que mais importa a cada um, seja a fé, a refeição partilhada, o prazer de oferecer, ou a festa.
Mas quando finalmente chegar o Natal, no dia dele, o que mais importa seremos nós, com os outros, muito próximos ou menos, muito presentes ou já ausentes. Hoje era o dia dela, da Mãe. Dava-lhe um beijo, com desejos de bom caminho até ao Natal.