Opinião
Cinema | A liberdade de criar e mostrar na era da Internet
Em 2015, a série norueguesa Skam foi um surpreendente sucesso com o público jovem, pelo mundo inteiro
Para muitos daqueles que se viriam a tornar fans, o interesse começou com o que vislumbravam nos painéis do Tumblr ou os feeds do Twitter.
Como explica o Den of Geek, Skam, que se traduz como "Vergonha", é um drama sobre adolescentes noruegueses que arrebatou a Internet, apesar de não existirem streams disponíveis com legendas em inglês ou noutras línguas (principalmente, ao que parece, por causa dos direitos musicais) e de também não ter existido nenhum impulso para a internacionalização por parte do marketing oficial da série.
Como conseguiram os espectadores internacionais aceder à série, então?
Os fãs tiveram que traduzir o programa eles próprios e disponibilizar os episódios em veículos como o Google Drive e, principalmente, o Tumblr, onde o entusiasmo cresceu.
Este é um programa que se espalhou pela Internet como um vírus, impulsionado pelo entusiasmo de quem o via.
E é, assim, um verdadeiro sucesso desta era da ‘rede’, um programa de TV que ultrapassou qualquer expectativa de audiências, sem marketing.
Será possível, então, sobreviver profissionalmente nos média sem a atenção do mainstream e o julgamento moral que vem com isso?
Imagens, palavras, tudo se sujeita a um escrutínio sob princípios específicos, e se a Internet pode ser um meio aparentemente infinito de expressão underground, os jovens profissionais percebem, mais cedo ou mais tarde, que o financiamento institucional também obedecerá a certas lógicas, e que esse conteúdo específico poderá ser desaprovado no próprio estágio de angariação de fundos.
É claro que, para produtos de média alternativos, o crowdfunding pode, actualmente, servir como solução viável, mas, no outro extremo, os resultados podem ser dificultados, mais uma vez, pela moralidade dos patrocinadores de uma qualquer estação de TV, de grupos na Internet, de conselhos de administração, de membros de júris, de críticos de cinema e editores de revistas, para citar alguns.
Entender isto é vital para a sobrevivência neste meio e, como tal, torna-se fundamental que os profissionais ganhem uma forte consciência histórica e social sobre tópicos como a sexualidade, o género e a censura. Isto não quer dizer que os agentes envolvidos em qualquer processo de criação se devam auto-censurar por antecipação ao sistema, muito pelo contrário; quer dizer que devem conhecer o modo de funcionamento interno dos processos dos média, da produção à distribuição e à disseminação, de modo que possam navegar melhor os muitos obstáculos que terão no seu caminho.