Opinião

Cinema | Sede de Viver

13 abr 2023 08:00

Ainda que Sede de Viver dificilmente venha a fazer parte de uma lista dos melhores filmes do ano, será sempre uma alternativa bastante interessante para as ”tardes de domingo”

O ambiente é de consternação, enquanto o pequeno JR e a sua mãe regressam a Long Island, no seguimento da separação do casal. O pai de JR será, durante muito tempo, nada mais que “uma voz na rádio” que apenas a criança procura e que todos tentam silenciar.

O regresso é para casa dos avós, uma vivenda decrépita nos subúrbios onde habita a tempo inteiro o tio Charlie e, a espaços, a tia Ruth e as três filhas, ao ritmo do mesmo vai e vem de relações, estados de graça e dificuldades económicas que levam JR e a mãe a deslocarem-se para a casa do patriarca.

O tio Charlie assume, com carinho e disponibilidade, o papel de figura paternal do jovem, com a solicitude possível de alguém cuja principal ocupação é a de gerir o bar “The Dickens”.

É no “The Dickens”, com as suas prateleiras repletas de literatura e álcool e incentivado pela fauna de clientes habituais, amigos de Charlie, que JR decide que se vai tornar escritor.

Sede de Viver (The Tender Bar, 2021) é o mais recente trabalho de George Clooney, na cadeira de realizador, baseado no livro de memórias de J.R. Moheringer com o mesmo título. Apesar do elenco recheado de estrelas, com Ben Affleck como tio Charlie, Lily Rabe como mãe e o fantástico Christopher Lloyd como avô, além obviamente dos jovens Daniel Ranieri e Tye Sheridan como JR, o filme acaba por nunca crescer para além de uma morna comédia de situação e o potencial para algum dramatismo acaba por se perder, salvo uma ou outra exceção.

O trabalho de Clooney é perfeitamente competente e, como espectadores, é impossível não nos rendermos ao sentimento de empatia que o percurso de JR e especialmente a sua relação com o Tio Charlie despoletam. Os conselhos com que vai presenteando o sobrinho são, aliás, dos momentos mais deliciosos do filme: “Se beberes controla-te. Se não te conseguires controlar, não bebas. Segura as portas, sê bom para a tua mãe. Aprende a mudar um pneu e a carregar uma bateria. Nunca batas numa mulher mesmo que ela te esfaqueie com tesouras”.

Ainda que Sede de Viver dificilmente venha a fazer parte de uma lista dos melhores filmes do ano, será sempre uma alternativa bastante interessante para as ”tardes de domingo” que se avizinham, especialmente se tivermos em conta que nesta época do ano a maioria dos filmes que a televisão tem para oferecer são variações da história do filho do carpinteiro que se tornou super-estrela da Broadway.