Opinião

Cinema | The Substance: uma viagem intensa e provocadora da mente de Coralie Fargeat

8 nov 2024 08:42

Este filme não é para os fracos de estômago: é provocador, repugnante em certos momentos, mas irresistivelmente cativante

A realizadora Coralie Fargeat estreia-se em grande estilo em Cannes com The Substance, uma verdadeiro “achado” que traz para o grande ecrã o lado mais obscuro da nossa obsessão com a juventude e a beleza eterna.

Inspirando-se claramente no estilo de David Cronenberg, Fargeat cria uma experiência cinematográfica ousada e desconcertante, que explora um mundo saturado de preenchimentos, botox, liftings faciais e uma rotina intensa de cuidados de pele — símbolos da nossa sociedade frenética por aparência e perfeição.

Este filme não é para os fracos de estômago: é provocador, repugnante em certos momentos, mas irresistivelmente cativante. Ele faz a pergunta inquietante: o “novo e melhor de ti” é realmente tu ou será que ao melhorar-nos estamos a perder algo fundamental?

Julianne Moore e Margaret Qualley brilham como uma dupla magnética, interpretando com intensidade as nuances e dilemas da busca insaciável pela perfeição física. Jack Quaid impressiona ao dar vida a um personagem que parece ser um velho de Hollywood decadente, mas cuja fortuna e status permanecem intactos, independente da idade e das rugas, a controlar todo esse mercado – temas bem atuais, portanto.

O enredo de The Substance convida-nos a interpretações diversas e a explorar teorias intrigantes. Como mencionado acima, a ideia recorrente de que uma versão “nova” da personagem está a crescer, uma espécie de “outro eu” que começa como um “criança”, mentalmente, mas logo desenvolve uma mente própria, enquanto o “eu” original se degrada e envelhece. Esse conflito entre o novo e o antigo eu é intrigante e confuso para o espectador, o que o torna ainda mais envolvente. A única ressalva que tenho é quanto aos últimos 10 a 20 minutos finais. Fiquei com a sensação de que talvez essa extensão poética tenha sido um pouco desnecessária, embora que cinematograficamente é bom e simbolicamente tem uma cena boa que torna isto em “loop”, que é a realidade. No entanto, é uma questão de gosto, e não tira o mérito do filme como um todo.

É um filme perfeito para uma noite de debate, com muito para explorar e teorizar com amigos após os créditos finais.