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Palavra de Honra | Os avanços científicos não parecem acompanhar a civilização de um ponto de vista mais humanista

20 abr 2025 09:28

Ana Luísa Sousa, psicóloga

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Já não há paciência... para o live fast and furious, onde nos perdemos a passar visto às mil e uma tarefas do dia-a-dia, para depois chegar ao início do próximo mês sem acesso a habitação, ao pão, à educação, a cuidados de saúde e acesso a cultura. Tudo isto leva à exclusão social, assim como ao subdesenvolvimento de habilidades socioemocionais.

A ideia... de que da “escassez vem a arte e o engenho”, é muito bonita, mas só perpetua desigualdades.

Detesto... dinâmicas de poder. Desde as que encontramos nas políticas globais, até às que encontramos no local de trabalho, na família, ou qualquer outra relação interpessoal.

Questiono-me se... saberei envelhecer sem perder a “infantilidade/jovialidade” que me caracteriza.

Adoro... luas cheias, o pôr do sol na nossa costa, uma sesta depois do almoço, os meus fiéis companheiros (gatinhos e cão), a comunhão do bater de palmas num final de um concerto ou peça de teatro (emociono-me sempre), o crepitar do disco de vinil enquanto gira. É sinal que a coisa precisa de ser limpa, mas é assim que gosto: imperfeita.

Lembro-me tantas vezes... que deveria ter colocado gasóleo antes de entrar na autoestrada. Agora aqui estou eu, a debitar ideias, enquanto espero pelo reboque. Apesar do meu lado contestatário, sou claramente otimista: acredito sempre que chego a tempo, que um dia vou encontrar a metade da laranja, que há seres humanos incríveis e que ainda dá para mais 10 km. Não deu!

Desejo secretamente... que inventem um carro, tipo Inspector Gadget, de onde saem umas manápulas com umas luvas idênticas às do Mickey Mouse. E cada vez que algum nabo se cruza no meu caminho, é ativado todo um sistema que joga para o espaço sideral o energúmeno. Só de imaginar já sinto um certo contentamento. E é isto que me permite sobreviver ao ic2 todos os dias.

Tenho saudades... das noites quentes de verão, em que miúda, na companhia do meu irmão Tomé, nos armavamos em Tom Sawyer e Huckleberry Finn. Fazíamos acampamentos selvagens, no jardim lá de casa. Esta veia aventureira durava até ao segundo indício de uma cobra nas imediações. No dia seguinte acordávamos sempre nas nossas camas.

O medo que tive… ,durante meses, da minha vizinha do lado. Numa bela noite de lua cheia, o meu irmão Tomé resolveu povoar a minha mente com a ideia de que ela era uma bruxa má, que saía montada na sua vassoura voante e transformava criancinhas em criaturas sinistras.

Sinto vergonha alheia... quando me deparo com alguém a certificar a sua importância/ relevância recorrendo aos seus galões. Ao seu grande carro, à sua grande conta, ao seu grande feito… Como diria um professor da faculdade, Coimbra de Matos, “não é com galões que se vê quem tem quilhões”. Confesso que no dia-a-dia fujo de pessoas assim. Vezes há em que recorro ao sarcasmo, muito embora não seja fã deste, quando usado para diminuir o outro. Se por ventura encontrar no gabinete um cliente assim, com traços mais narcisistas, é-me bastante desafiante, pois não acredito ser possível estabelecer uma relação saudável e terapêutica sem gostar da pessoa que tenho à minha frente.

O futuro... não existe. Só conheço o passado e o presente. O passado faz-se presente através de memórias, associações e pequenos ou grandes trechos de informação, aos quais recorremos quando precisamos preencher lacunas mais penosas, isto de um posto de vista individual. Acredito porém, que se vivesse a pensar no futuro, a minha conta bancária seria um pouco diferente. E aquele copo de vinho que bebi a mais, não teria existido. Quem gosta de ressacas?! Mas vá… o futuro preocupa-me. A verdade é que os avanços científicos não parecem acompanhar a civilização de um ponto de vista mais humanista. Me parece que assistimos a um enorme retrocesso civilizacional. Mas ainda há quem julgue não ser necessária a disciplina de cidadania.  

Se eu encontrar... a caixa de pandora, fecho-a!

Prometo... continuar a polir a minha rebeldia com pequenas doses de cinismo. Descobri há uns anos que ser adulto é ser-se um pouco cínico.

Tenho orgulho... das minhas origens, do sentido de família que foi passado pelos meus pais e que espero perpetuar.