Editorial

Creches em lista de espera

18 abr 2024 08:04

As listas de espera continuam a engrossar, com pais a inscreverem os seus filhos com quase dois anos de antecedência

As voltas que a sociedade dá. Ainda não há muitos anos, consequência da baixa taxa de natalidade, assistimos ao encerramento de escolas, à falência de estabelecimentos privados de ensino pré-escolar e até à venda ou reconversão de imóveis, antes afectos ao ensino. Hoje, reclamam-se novas escolas para acolher o sucessivo crescimento do número de alunos, há pais em desespero por uma vaga na escola mais próxima da sua área de residência ou de trabalho, e jovens famílias em completa angústia por não encontrarem uma creche com disponibilidade para acolher o seu bebé.

Como se pode depreender no trabalho que faz a abertura deste jornal, há pelo menos três factores que contribuem para a escassez de vagas em creches na nossa região, um problema transversal a todo o País: o aumento significativo de imigrantes, a recente gratuitidade do sistema e a retoma do crescimento do índice de nascimentos.

Acrescem as dificuldades na rede pública, que apesar de ter vindo a ser reforçada nos últimos anos, está ainda longe de responder às necessidades. Os dados mais recentes disponibilizados pelo Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, relativos a 2022, referem uma cobertura da rede nacional até aos três anos de 51,3%.

Grosso modo, salvaguardando o facto da oferta ser muito mais baixa nos centros urbanos, uma em cada duas crianças menores de três anos dificilmente encontrará vaga num estabelecimento de ensino, seja público ou privado.

O ano passado, para minimizar o problema, o Governo autorizou as creches a criarem mais duas vagas por sala. Mas ainda assim, as listas de espera continuam a engrossar, com pais a inscreverem os seus filhos com quase dois anos de antecedência. Há famílias, inclusive, em que um dos elementos pondera adiar o regresso ao trabalho, procura reduzir o período laboral ou tenta recorrer ao teletrabalho para contornar as dificuldades.

Escusado será relembrar que garantir o acesso ao ensino, mesmo antes do pré-escolar, é investir no bem-estar das crianças e das famílias, é criar bases para uma sociedade mais justa e desenvolvida.