Editorial
Será que Chega?
Surpresa para alguns, indignação para outros, sentimento de protesto cumprido para tantos outros
Dois anos depois de ter perdido o distrito para o Partido Socialista, pela primeira vez na história das eleições legislativas, o PSD, coligado com o CDS-PP e o PPM na Aliança Democrática (AD), devolveu a Leiria o epíteto de bastião laranja, ao vencer, no domingo passado, em 12 dos 16 concelhos, deixando os socialistas a uma distância de mais de 34 mil votos.
Mas quem verdadeiramente dominou as conversas da noite eleitoral, à semelhança do que aconteceu um pouco por todo o País, foi o Chega, que registou uma subida impressionante, com quase o triplo dos votos alcançados no sufrágio de 2022.
O partido de André Ventura, além de se consolidar como terceira força política – também no distrito de Leiria -, ficou a apenas 7.771 votos do PS e conseguiu ser o segundo mais votado em sete concelhos da região, sendo um deles a Marinha Grande, em tempos não muito longínquos dominado pelo Partido Comunista.
Surpresa para alguns, indignação para outros, sentimento de protesto cumprido para tantos outros. “Eu, desta vez votei Chega. Não tenho problema nenhum em assumir. Estou farto de ver gente sem fazer nada a receber subsídios. O meu filho teve que ir para outra escola porque as vagas foram todas preenchidas pelos os imigrantes com prioridade, uma pessoa mata-se a trabalhar e o dinheiro é cada vez menos”, desabafou um eleitor leiriense, sem esconder um certo orgulho por ter colocado a cruz no partido que conquistou o voto de quase 54 mil pessoas no distrito e mais de um milhão a nível nacional.
Na era da digitalização e da inteligência artificial, perguntámos a uma das plataformas disponíveis no mercado qual a explicação para a ascensão do Chega no distrito de Leiria. A resposta foi, no mínimo, inesperada: “Ainda estamos a aprender a responder a essa questão”.
Mas no mundo real, é de reter uma das afirmações do secretário-geral do PS, na noite das eleições. “Não há 18% de votantes racistas ou xenófobos em Portugal, mas há muitos portugueses zangados que sentem que não têm tido representação”, admitiu Pedro Nuno Santos.