Opinião

CULTURA, UNIVER(CIDADE) E (DES)ENVOLVIMENTO - III

21 set 2016 00:00

Universidades e Politécnicos: novo ano académico

No dia 19 de setembro iniciou-se o ano académico de 2016/2017 na maior parte das universidades e politécnicos portugueses. Aparentemente, e numa primeira análise, as famílias portuguesas e seus filhos parecem voltar a acreditar no ensino superior como espaço de formação, profissionalização e desenho de novos projetos pessoais e profissionais.

A primeira fase de candidaturas mostrou uma tendência de aumento do número de estudantes quer nas universidades quer nos politécnicos. O Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa-Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) mostrou, uma vez mais, os seus trunfos e resultados na atração de novos estudantes que buscam o ensino superior. O ISCTE-IUL foi, de novo, a única instituição de ensino superior que esgotou as suas vagas na primeira fase.

Felizmente que, também, o Instituto Politécnico de Leiria (IPLeiria) viu aumentar, substancialmente, o seu número de estudantes. O IPLeiria ocupou, na primeira fase de candidaturas, cerca de 80% das vagas disponibilizadas. A reflexão e análise quanto ao tipo de estudantes e notas de entrada que procuraram as universidades e os politécnicos fica em standby para um próximo texto.

Do Ensino Superior no Brasil e dos riscos do Regime Fundacional
No Brasil, de onde regressei há 3 dias, e onde estive em “modo” de trabalho e também de férias, tudo está em mudança. Resta saber em que sentido vai essa mudança e quais serão os resultados finais, quer para a economia, quer para a educação, quer para a sociedade brasileira no seu todo.

Para já, em termos de ensino, há muito intelectual a dizer que Temer colocou a educação no século passado. No ensino superior regressou o aperto e estrangulamento a múltiplos projetos de investigação e de educação. A título de exemplo, porque o espaço escasseia para grandes análises agora, a ANHANGUERA, que se tornou na maior rede de ensino do Brasil, transformando-se numa empresa S.A., detendo, inclusivamente, ações em bolsa, demitiu 1497 professores do ensino superior, essencialmente, de entre os mais graduados, com doutoramento e mestrado, isto só no Estado de S. Paulo.

Especula-se que se busca o lucro e não a qualidade no ensino superior. Um professor com mestrado ganha, no Brasil, 38 reais por hora/aula. Com as novas contratações precárias, a ANHANGUERA pagará a professores menos habilitados apenas 26 reais por hora.
Num momento em que o Conselho Geral (CG) do IPLeiria decidiu discutir as vantagens e desvantagens do IPLeiria passar a regime de Fundação, vale a pena pensar bem sobre o caso Brasileiro: qualidade ou lucro?

Instituição de ensino e investigação ou empresa capitalista? Que ganharíamos com o regime fundacional?
Claro que os gestores portugueses que defendem o modelo de Fundação se sustentam na argumentação da maior autonomia e economia de tempo no desenvolvimento de projetos de investigação e ensino mas, pergunto eu, não será isto apenas a casca da árvore?

No caso brasileiro, apesar de o corpo docente das universidades ter de possuir pelo menos um terço de professores com mestrado ou doutoramento, é triste (e absurdo) que os professores sejam penalizados pelos graus académicos que obtêm.

Tanto lá, como cá, como em todas as instituições de ensino superior, seria mais racional, inteligente e eficaz que se optasse, antes, por uma política séria de avaliação, de prémios e sanções e, enfim, pelas motivações e devidas remunerações (para rimar).

"É MELHOR MERECER AS HONRAS SEM RECEBÊ-LAS DO QUE RECEBÊ-LAS SEM MERECÊ-LAS." (Mark Twain)

*Professor Coordenador Principal ESECS-IPLeira e CICS.NOVA.IPLeiria
*Professor Decano do Instituto Politécnico de Leiria