Opinião
Da economia informal – parte II
Por outro lado, a numerologia agregadora, estatal e economista permite manter a eterna dúvida sobre o real significado do elevado peso da economia informal, e que pode até ser bom sinal
Os números valem o que valem, e só grosseiramente pode dizer-se que reflectem a realidade económica de um país. Pior ainda: pouco ou nada dizem relativamente à qualidade da informalidade: agregam, tal como o faz o PIB em relação a toda a economia, a informalidade má, a boa e a indispensável a uma economia sã e sustentável.
Quando se diz, por exemplo, que em Portugal há demasiada economia informal, um valor por hipótese acima dos 25% (os dados oficiais apontam para perto de 27% do PIB ou seja, cerca de 46 mil milhões de euros que anualmente escapam à tributação), isso não é necessariamente mau ou verdadeiro; há que ter presente e salvaguardar a parte boa e indispensável dessa informalidade, a parte que, por infeliz coincidência (para alguns talvez não), é também a mais fraca, a que fiscalmente é mais fácil de atacar.
Por outro lado, a numerologia agregadora, estatal e economista permite manter a eterna dúvida sobre o real significado do elevado peso da economia informal, e que pode até ser bom sinal; por exemplo de que o inconsciente colectivo dos portugueses guarda consigo algo de valioso; algo que Agostinho da Silva decifrava: que o único objectivo moralmente aceitável da economia é o de suprimir a necessidade do trabalho humano, para tal fomentando a gratuitidade e a dignidade do viver colectivo. Precisamente o contrário do que ela faz, com a providencial assistência do Estado. O mal, ao que parece, é hoje geral, e é notório o esforço estatísticoeconómico para o tentar relativizar, nomeadamente por via das análises comparadas.
*Professor universitário
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