Opinião

Destilar ódio 

3 dez 2023 10:20

Tenho pena de algumas das pessoas que vão dar poder a estes charlatães populistas

A extrema-direita continua a emergir um pouco por todo o mundo. Em Portugal não é excepção. Foi-se, decididamente, o decoro. Agora até trazem convidados a desfilar no nosso parlamento. Perdeu-se a vergonha. Nós, que lhes abrimos a porta. Eles, que de cara destapada, nos querem vender um chorrilho de odiosas e vazias propostas.

Nada lhes sabemos sobre Economia, Educação, Cultura, Finanças, Solidariedade ou Saúde. Mas conhecemos o seu discurso de ódio, o seu racismo, a misoginia descarada e sabemos que se chegarem ao poder vão salvar-nos do exército de ciganos que nos rouba a comida, vão salvar-nos da turba de pretos que nos invade as casas, vão salvar-nos do batalhão de transexuais que nos conspurca de pecado, e dos pobres, que, coitados, nasceram pobres, e dos ladrões, e dos drogados, e dos bêbados, e vão salvar-nos dos ricos que roubaram, porque 99% dos ricos que não o fizeram são, como toda a gente sabe, ricos por causa da meritocracia e não porque herdaram ou, porque nasceram num berço de ouro.

Tenho pena de algumas das pessoas que vão dar poder a estes charlatães populistas. Votam neles porque, dizem, estão desesperados. Porque andam a contar trocos, sentem-se injustiçados, estão com dificuldade em colocar comida na mesa, já não têm mais rins para vender para pagar a renda, e porque olham para o futuro e não o vêem de boa cor. Compreendo, mas temo por eles. É natural, sou um gajo de esquerda e preocupo-me com as pessoas.

E sim, há alternativas com propostas honestas, humanistas e sensatas, à esquerda, ao centro, e à direita. E há também quem vote na extrema-direita por malformação ética. Pessoas proibicionistas apenas porque sentem repulsa por algumas das opções dos outros. Compreendo-os, claro, pois também sinto repulsa por eles. Eles não “coisam” nem deixam “coisar”. Querem um mundo asséptico, assexuado, insosso, insípido, aguado, mono cultural, mono comportamental.

Pelo menos para os outros, porque para si mesmos, quais bons hipócritas, nunca abdicam do que lhes convém na circunstância. Só se forem acéfalos, o que eu não duvido.