Opinião
É preciso gente para fazer um país
Há falta de pessoas em centenas de funções e actividades básicas na sociedade
Há picos de actividade que representam momentos de moda, que pouco acrescentam ao funcionamento diário e funcional do país.
Mas outras necessidades há que são críticas ao nosso quotidiano. Falo daquilo que todos vêem e todos constatam e todos sabem: há falta de pessoas em centenas de funções e actividades básicas na sociedade.
Os números fizeram manchete nos jornais de há uns dias, mas têm sido gritos de alerta recorrentes: na hotelaria fazem falta cerca de 45.000 pessoas. Quarenta-e-cinco-mil…
Não se pense que estes números são apenas causados pelos picos de turismo que surgem, pois a escassez de recursos humanos (já nem falo de qualificações) são temas críticos já antes dos tempos de pandemia.
A pergunta que todos fazemos é: onde estão as pessoas que trabalhavam nesta área?
Muitos não regressaram e encontraram/optaram por fazer muitas outras coisas em áreas até nada conexas.
Não se “arranjam” 45.000 pessoas de um dia para o outro. Se formos olhar para o sector social temos a mesma escassez.
A indústria queixa-se do mesmo. Na saúde o panorama é conhecido. Nas escolas idem. Agricultura e por aí fora.
Serão anos muito difíceis os que temos pela frente. A baixa curva da natalidade de há uns anos atinge-nos agora em cheio.
A isto cruzamos a quantidade de “postos de trabalho” que é preciso preencher, mais as reformas (que são devidas) e chega-se a um vazio difícil de acreditar.
Será impossível fazer diferente sem um acréscimo significativo de pessoas (imigração?) e podemos pensar em todos aqueles que se foram na última vaga de crise, ainda assim não chegam.
Não vale a pena pensar que se consegue magia apenas pela questão salarial.
No sector da hotelaria e turismo são muitos os que dizem: mas eu já não contrato ninguém com o ordenado mínimo! Não é uma questão salarial. Não há.
A riqueza que é o nosso sector turístico é também a imagem do nosso país.
Cheguei recentemente de um voo provindo de um destino europeu, sem necessidade de teste de viagem, apenas a máscara FP2 comme il faut.
Assim foi no destino onde aterrei, saída impecável e sem transtornos. Ao regressar deparei-me com uma fila à subida de umas escadas – as rolantes estavam avariadas.
Subi a custo os degraus com a mala, a par com turistas e menos turistas. Meia hora depois subi poucos degraus.
Mais meia hora e vislumbrei a causa: dois pacientes funcionários verificavam à mão, um a um, os certificados de vacinas ou de testagem.
Dois gatos-pingados, como se costuma dizer.
O voo foi curto e o avião pequeno, imagino em voos concentrados e de destinos com exigências adicionais. É o caos a que temos assistido.
É a imagem de um país que não consegue os mínimos em funções como estas.
E este cartão de visita turístico precisa de atenção, o cliente também já mede estes níveis de exigência.
Criar oportunidades é sinónimo de ter pessoas em funções e isso começa a escassear, sobretudo num Portugal que existe fora de Lisboa e Porto. Porque existimos.
São desafios que precisamos de ultrapassar não apenas agora que se aproxima o pico do Verão, mas de forma estrutural e contínua um pouco por todos os sectores onde pessoas trabalham com pessoas.
É preciso mais gente para irmos fazendo este país…