Opinião
Escolhas
Podem assinar este mundo e o outro. Desde que assinem um jornal.
Escolher é existir. Escolher é preferir não ter vivido em vão. Escolher é respirar. Podemos todos não escolher. Deixar que escolham por nós.
Não saber.
Encolher os ombros e assobiar para o lado. Que isto de escolher dá trabalho.
É preciso ler. E ler, como sabemos, a não ser que sejam as gordas do jornalixo, dá trabalho.
Assim sendo, podemos até imaginar o lindo mundo que nos espera com a morte anunciada do jornalismo.
Um mundo onde a terra é plana e as vacinas matam.
Um mundo onde Trump e Bolsonaro foram enviados por deus para salvar o mundo dessas poucas vergonhas que são os gays.
Um mundo onde o vinagre evita o contágio por coronavírus, a sida se propaga por um aperto de mão e o aquecimento global é uma invenção de ecologistas fanáticos.
Um mundo onde “a esquerda fomenta o incesto, a sexualização precoce das crianças e a masturbação dos filhos pelas mães” como partilha uma dirigente nacional do Chega e cristã evangélica, segundo a revista Visão.
Confusos? Uma mentira dita mil vezes quase parece verdade…
O único antídoto das fake news é o jornalismo de rosto humano.
Independente, não capturado por interesses económicos ou ideologias.
E porque escolher é uma coisa que todos ainda podemos fazer, escolhi algumas notícias de capa do JORNAL DE LEIRIA dos últimos anos:
“O estádio de Leiria precisa de obras de meio milhão de euros e ainda tem uma dívida de 32 milhões por liquidar” (2018)
“Corrupção, fraude e peculato na acusação ao grupo GPS” (2018) “Centro Hospitalar de Leiria pediu 78 médicos, mas só recebeu 18” (2018)
“Professores acusam director de Colégio de S. Miguel de perseguição” (2016)
“Pais alteram moradas para manter filhos nos colégios” (2016)
“Autarquias da região emagreceram 19% desde que chegou a troika” (2015)
“Ministério fecha 24 escolas do 1.º ciclo no distrito de Leiria” (2014)
“Parque de merendas nasce no meio de pocilgas” (2013)
“Hospital de Leiria recebe 3400 falsas urgências por mês” (2013)
Preferiam não saber?
Podem assinar petições.
Contratos de crédito. Cartas de amor. Divórcios. Casamentos. Pedidos de esclarecimentos. Reclamações. Queixas de violência.
Podem assinar este mundo e o outro.
Desde que assinem um jornal. Um que mereça o nome, um que não faça favores.
Um que não seja mais importante pelo que não publica.
Um que não venda conteúdos em troca de subsídios do Estado.
Um que se olhe no fim da edição fechada ao espelho e tenha orgulho no que fez.
Um Jornal, desde que mereça o nome do Jornalismo.
A escolha é, como sempre, vossa.