Opinião
Eutanásia para empresas
Quando os recursos são escassos temos que os aplicar de forma eficiente e eficaz
Enquanto se vai empatando a decisão sobre a eutanásia para as pessoas, o Banco de Portugal (BP), sob a batuta de Mário Centeno, insiste na aplicação desse conceito a algumas empresas ou, mesmo, a prática de uma espécie de eugenia visando retirar do mercado não só as que já estão em dificuldades, mas também as que poderão vir a estar no futuro.
É o que ressalta do seu mais recente relatório de estabilidade financeira, segundo o semanário Expresso de 23/12 do ano passado.
O objectivo é, em resumo, limpar o mercado português, deixando cair todas as empresas não-viáveis (zombies) ou em risco de zombificação.
Segundo o BP, essas empresas consumiram parte importante das moratórias concedidas nos créditos a empresas, embora sem garantia estatal.
A sua recomendação é que se apoiem as empresas que conseguem retomar o seu reembolso regular e tenham potencial de viabilização, e se deixe cair na insolvência as restantes, embora devam ser criadas condições para facilitar os processos de reestruturação e liquidação dessas empresas não-viáveis de modo a preservarem o seu capital físico e humano.
Ficariam, assim, mais recursos disponíveis para apoiar outras actividades promovendo um cuidadoso processo de ajustamento do tecido económico português.
Centeno tem razão em termos de pura racionalidade económica: quando os recursos são escassos temos que os aplicar de forma eficiente e eficaz.
O nossos País vai perdendo competitividade porque muitas empresas, do ponto de vista estratégico, estão em impasse concorrencial: fabricam produtos de baixo valor acrescentado, não diferenciados e, por isso, não conseguem praticar preços de venda compensadores capazes de gerar fluxos de caixa excedentários que permitam realizar investimentos de modernização.
São micro e pequenas empresas, descapitalizadas, sem qualidade de gestão e praticam salários muito baixos que não lhes permite atrair pessoal qualificado.
A dimensão média das empresas em Portugal é de cerca de 12 pessoas (estimativa do BP), representando as médias empresas (empregando entre 50 e 249 pessoas) apenas 2% do total e as grandes empresas (mais de 250 trabalhadores) não chegam a 0,8%.
Mas as pequenas empresas garantem cerca de 40% do emprego, embora produzam apenas 25% do valor acrescentado, enquanto as grandes empresas empreguem apenas 22% das pessoas e geram 32% do valor acrescentado.
A limpeza do tecido empresarial é racional do ponto de vista económico, mas é preciso garantir que muitas pessoas não caiam no desemprego, engrossem a fileira da pobreza em Portugal e passem a viver da Segurança Social.
É imperioso que as políticas públicas se concentrem em promover ganhos de escala das nossas empresas, em particular através da promoção e incentivos a fusões e aquisições de empresas no nosso país.