Opinião

Falso saber

25 fev 2016 00:00

Espreitaram-me de esguelha os presentes, como quem diz tu és lá das letras, deves saber, e eu espreitei-os de volta como quem diz, devia saber, mas não sei.

Tem de se parar com esta mesquinhez de mensurar tudo. És gordo porque se mede o peso, és velho porque se mede o tempo e és burro porque se mede o saber. No outro dia, num daqueles programas onde se financia quem se acha erudito, interrogaram o concorrente acerca de quem havia sido o cônjuge da Rainha Dona Amélia.

Espreitaram-me de esguelha os presentes, como quem diz tu és lá das letras, deves saber, e eu espreitei-os de volta como quem diz, devia saber, mas não sei. Nesse exato momento, aconchegado dentro das paredes de uma urna no Panteão Real da Dinastia de Bragança, um cadáver acordou do seu sono e deu umas boas voltas.

A Rainha Dona Amélia, a miserável que perdeu todos, a virgem santa que queria entulhar o gargalo dos esfomeados, a última de rainha de Portugal, esposa do rei Carlos I, a quem roubaram a vida mesmo em frente aos seus olhos, essa. Podia reivindicar como minha a culpa por esta escassez de saber, findados quinze anos de ensino. Mas não. Não é comigo que ela condiz.

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Texto escrito de acordo com a nova ortografia

*Estudante