Opinião
Falta aqui qualquer coisa
Depois surge uma sequestradora. Transforma todos os presentes em reféns e exige falar com deus. É-lhe explicado que se quer falar com deus, basta rezar.
Estamos no céu. Numa espécie de loja do cidadão, a funcionária de serviço discute com uma estagiária sobre os problemas e os desafios de se morrer e ir para o céu.
Entretanto a repartição abre ao público e os utentes vão desfilando com os seus requerimentos e reclamações.
Há uma cantora que pretende organizar um arraial ou uma jovem que se queixa de ter morrido demasiado cedo; preenchem os formulários adequados e aguardam.
Depois surge uma sequestradora. Transforma todos os presentes em reféns e exige falar com deus. É-lhe explicado que se quer falar com deus, basta rezar.
Responde que a reza é sempre um monólogo e ela pretende dialogar; que o problema do mundo (e do céu) é que todos falam mas ninguém ouve.
A tensão cresce, a confusão instala-se, a discussão generaliza-se. Como sempre acontece nos momentos menos oportunos, surge uma inspecção.
A desordem aumenta, o conflito é permanente. E então surge finalmente deus, acompanhado da secretária. Entre discussões e reflexões, cantorias e piadas, tensões e relaxamentos, os diferentes monólogos vão-se tentando aproximar e conciliar de modo a formarem diálogos.
Todos se revelam imperfeitos, todos se sentem incompletos, todos se queixam; porque falta sempre qualquer coisa. Este é um breve resumo da peça Falta aqui qualquer coisa, que escrevi para O Nariz – Teatro de Grupo.
Está a ser ensaiada e deverá estrear no início do próximo ano; por enquanto, haverá uma leitura pública no dia 11 de Outubro (22 horas, Espaço O Nariz).
Tal como acontecera antes, com a peça Libelinhas, deslumbra-me a magia de alguém pegar num texto que escrevi e lhe da
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