Opinião

Família

30 mar 2020 09:49

A moralização, a desumanização, seguem de perto na escala dos males “não-físicos” que o vírus nos causa.

Uma das coisas mais fáceis de acontecer, em tempos como este, é a desunião, aquecida nos fornos da autocomplacência. A todo o momento, pelo que se lê, se vê e sente, este é um cenário com forte índice de possibilidade.

A moralização, a desumanização, seguem de perto na escala dos males “não-físicos” que o vírus nos causa.

É neste contexto que o forte sentido de família dos portugueses pode ajudar. Família pode significar muitas coisas diferentes para muita gente.

Foi uma “zanga" entre mãe e filho que iniciou a História do nosso país. São os favorecimentos entre familiares para cargos e empregos de luxo que nos fazem desacreditar da justiça das oportunidades iguais da democracia.

Mas, também são aqueles acontecimentos heróicos, de provas insanas de amor pelos filhos que nos sustentam a esperança.

A família pode e deve ser cultivada como o porto seguro de abrigo, a rede de cuidados de que precisamos, o nosso Estado Social, para o qual não temos de votar, porque família não se escolhe.

Eu venho de um bairro erguido pelas famílias: foram elas que passaram os primeiros canos debaixo da terra para que tivéssemos água potável; foram elas que abriram os primeiros espaços onde pudéssemos ler.

A minha família não tem propriedades e por isso nunca nenhuma guerra de partilhas nos separará. Tive, como toda gente, muitas chatices familiares.

Desiludi, fui desiludido, magoei, fui magoado, mas nunca desapareceu o amor, nem a noção de que no princípio e no fim é a família que nos arranca do ventre e nos põe a terra por cima dos ossos.

A minha família cresceu. A minha mulher, os meus cunhados, o meu sogro, os novos companheiros dos meus pais, já para não falar do meu filho e sobrinhos, são todos da minha família.

Uns por laços inexplicáveis de sangue, outros por amor, todos por acreditarem que é a soma das nossas partes que nos torna invencíveis perante os desafios do mundo.