Opinião
Febre racista
E por isso, desde o primeiro dia da eleição de Joacine, comunicação social, opinião pública, e uma certa classe política direcionaram todos os seus esforços no sentido de destruir uma imagem, uma voz, um ser humano, como um ataque a todo um movimento e ao que ele representa. (...)
Como cura para esta febre, apresento-vos a presidente da INMUNE - Instituto da Mulher Negra em Portugal, Angella Graça - mulher maravilhosa, amiga de longa data - na esperança de que o que ela disse há umas semanas possa ecoar no tão necessário exame de consciência que temos de fazer, enquanto sociedade:
“Em pleno século XXI, assistimos a episódios, na sociedade portuguesa que nos trazem à memória imagens de terror e que vêm deixar algumas mensagens claras. Uma delas é a de que, tal como nas sociedades escravocratas, enquanto o negro provar a sua utilidade e submissão, pode ocupar um determinado espaço.
No momento em que perde essa utilidade e essa submissão, é o momento em que, das mais variadas formas, é colocado num permanente estado de humilhação e desumanização até que ceda.
Isto foi o que aconteceu com a Cláudia Simões.
A outra é a de que, tal como nas sociedades coloniais, enquanto mantivermos as nossas mentes e os nossos corpos colonizados e seja garantida a nossa permanência no lugar que nos está determinado, que nos é permitido pelos povos dominantes, somos o negro amigo; enquanto nos mantivermos concordantes e gratos por tudo o que nos foi dado, permitido, somos o negro amigo.
Mas esse lugar, essa estrutura social, essa realidade, pertencem ao passado.
Hoje, mais do que nunca, o negro enquanto sujeito é e continuará a ser detentor de palavra, difusor de conhecimento, produtor de crítica, agente de mudança.
Uma mudança urgente para uma comunidade que, durante séculos e até aos dias de hoje, luta e continuará a lutar para conquistar um lugar que é seu por direito.
E por isso, desde o primeiro dia da eleição de Joacine, comunicação social, opinião pública, e uma certa classe política direcionaram todos os seus esforços no sentido de destruir uma imagem, uma voz, um ser humano, como um ataque a todo um movimento e ao que ele representa. (...)
E ainda que não se saiba muito sobre os pormenores desta história, (...) sabe-se o suficiente sobre tantas outras histórias com o mesmo enredo.
Martin Luther King, Malcom X, Amílcar Cabral, Marielle Franco e tantos outros que ousaram desafiar o sistema e foram eliminados.
Deixamo-vos o desafio de resistência, de descolonização das nossas mentes, da nossa voz e da nossa imagem.”