Opinião

Florestofobia: onde não há árvores, não há fogos!

10 jun 2023 16:28

Será que vamos chegar todos à mesma conclusão que o Trump, que, há uns anos, dizia que a culpa dos incêndios é haver tantas árvores?

Desde o devastador incêndio de 2017 que as regras de manutenção de terrenos florestais têm vindo a apertar. Repetem-se as campanhas de sensibilização para não fazer queimadas sem as devidas licenças e acompanhamentos, e todas as pessoas detentoras de terrenos florestais são fortemente instadas a mantê-los adequadamente geridos (“limpos”). E bem.

Mas iço aqui a minha bandeira vermelha, para reflexão. Creio que aquilo que se tem vindo a fazer, incluindo algumas entidades públicas como câmaras e juntas de freguesia, tem entrado muitas vezes no campo da paranóia.

O Decreto-Lei 124/2006 de 28 de junho, que determina as regras sobre o assunto, nada diz sobre arrasar totalmente estes terrenos. Existem limites de altura para os arbustos (50 cm), para herbáceas (20 cm), e distâncias de segurança entre árvores e percentagem de folhas e ramagens das copas das árvores. Mas nada na lei determina os arrasos que podemos ver em tantos terrenos.

É certo que a gestão adequada, que pressupõe podas e controlo em vez de cortes radicais e revolvimento de solos, pode ser um encargo pesado, o que requer também apoio, políticas positivas e bom senso por parte das entidades públicas.

Mas os serviços prestados em gestão de terrenos são, demasiadas vezes, de facto, uma limpeza - conceito que jamais deveria ser aplicado a terrenos florestais, que necessitam de biodiversidade de todo o tipo de espécies autóctones (incluindo vegetais, imagine-se!), até para poderem ser mais resilientes aos fogos.

Com estas práticas, pergunto-me quanto tempo levará até as espécies invasoras tomarem de vez conta do território (sim, porque para essas, estas “limpezas” são um verdadeiro paraíso), ou, pior, quanto tempo levará até os proprietários deixarem de poder ter as suas culturas agro-florestais.

Estamos a entrar em florestofobia. Será que vamos chegar todos à mesma conclusão que o Trump, que, há uns anos, dizia que a culpa dos incêndios é haver tantas árvores? Ou servirá este dilema de alerta (mais um) para a absoluta urgência que há em mudarmos os nossos comportamentos para com o meio natural?