Opinião

Folclore ignorado

5 jun 2022 15:45

Continuamos a ver, pelo país fora, grupos mal trajados

Folclore continua a ser ignorado. Será a representação folclórica património? São assuntos que já não são novos.

O folclore é um item da representação cultural de um país que, ainda, tem no sangue o saudosismo sombrio de um regime que pouco fertilizou o conhecimento em Portugal.

Os grupos de folclore, pioneiros na representação de uma determinada época, essencialmente o último quartel do século XIX e primeira década do século XX, não conseguiram, ainda, renovar a mentalidade, interna e externa, perante esta arte que é única no mundo.

Apenas Portugal tenta cristalizar uma época e um estrato social – o “povo” rural. Talvez esse seja o problema…

Contudo, independentemente do conceito, do conhecimento ou da valorização do trabalho que os grupos de folclore têm angariado nas últimas sete ou oito décadas, continuamos a ver, pelo país fora, grupos mal trajados, a atuarem em palcos com pregos, buracos e farpas, com um som horrível e com o microfone espetado dentro do acordeão, instrumento que o povo não usava.

Enquanto alguns tentam valorizar o seu trabalho, outros deitam tudo pelo vácuo do desconhecimento e do “deixa andar”.

Ao contrário das filarmónicas, que se atualizaram, criando escolas de música, dando formação, os grupos de folclore não conseguiram passar a esse patamar.

E, talvez, a tal cristalização seja o problema para não se conseguir atrair jovens.

O folclore tem que dar um passo em frente, continuando a preservar o seu ideário, e em simultâneo tem que mostrar que com a raiz que defende é possível dar novos frutos.

Isto é, continuar a exibir a tal “cristalização”, de preferência correta e não apenas na recolha oral do “diz que disse”, e mostrar que, com a recolha que alcançou, também é possível troná-la contemporânea.

Vejam o que fez Zeca Afonso…

Por isso, antes de olharmos para fora e apontar o dedo, vamos olhar para dentro e ver, em consciência, o que falta fazer para darmos o tal passo em frente…

O reconhecimento dos outros começa em nós…

 

Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990