Editorial
Fome e obesidade
Também em Portugal há crianças, e adultos, a passar fome, cenário agravado em consequência da pandemia
A obesidade infantil mantém-se no topo da agenda da Organização Mundial da Saúde, por ser uma condição séria de saúde pública a nível global nos países desenvolvidos.
No outro extremo, todos os dias centenas de crianças morrem à fome nos países pobres.
Sem esta gravidade, o certo é que também em Portugal há crianças, e adultos, a passar fome, cenário agravado em consequência da pandemia.
Na semana passada foram apresentados os resultados da quinta ronda do COSI Portugal, o sistema de vigilância nutricional infantil integrado no estudo Childhood Obesity Surveillance Initiative.
Esta quinta ronda foi realizada no ano lectivo 2018/2019; a sexta, lançada oficialmente também na semana passada, vai decorrer no actual ano lectivo e, além da monitorização do excesso de peso e de obesidade infantil, incluirá excepcionalmente um estudo de avaliação do impacto da pandemia Covid-19 no estado nutricional e no estilo de vida de crianças em idade escolar.
Os mais recentes resultados do estudo COSI Portugal confirmam a tendência da diminuição das prevalências de excesso de peso e de obesidade infantil em Portugal.
Entre a primeira e a quinta rondas, ou seja, entre 2008 e 2019, verificou-se uma redução de 8,2 pontos percentuais na prevalência de excesso de peso infantil e de 3,4% na obesidade infantil.
Sem dúvida uma boa notícia, que nos deve deixar satisfeitos, mas que não deve incentivar ninguém a baixar os braços, até porque em Portugal uma em cada três crianças ainda tem excesso de peso. Entre os adultos, 53% tem peso a mais.
Sendo os hábitos alimentares inadequados o factor de risco com mais peso nos anos de vida saudável que se perdem, nunca é de mais insistir na necessidade de uma alimentação saudável.
Mas o que é isso afinal? Os especialistas ouvidos no trabalho especial que apresentamos nesta edição falam em equilíbrio e em sustentabilidade e no consumo dos alimentos presentes na roda, nas quantidades adequadas.
A alimentação deve portanto ser equilibrada, variada e completa. Mas sem exageros. É que a obsessão pela alimentação saudável, a chamada ortorexia, também é uma doença.
Por isso, a frase “que o teu alimento seja o teu remédio, e que o teu remédio seja o teu alimento”, atribuída a Hipócrates, apontado como pai da medicina, fará actualmente mais sentido do que nunca.