Opinião
Game Over
É preocupante ver este crescimento da masculinidade tóxica, de subjugação do outro mais frágil. E em prol do quê?
A saúde mental das crianças e dos adolescentes continua a ser motivo de preocupação. Se no pós-pandemia houve um aumento significativo dos pedidos de ajuda para esta faixa etária, nos anos subsequentes não houve diminuição da mesma. O que nos leva a pensar: o que vai na cabeça destes jovens e crianças para estarem tão doentes? E como invertemos esta tendência?
E depois surgem notícias de como três jovens filmaram uma agressão sexual a uma rapariga de 16 anos e publicaram nas redes sociais. Sendo influencers o dito vídeo teve mais de 32 mil visualizações, sem que destas visualizações resultasse uma denúncia do seu conteúdo. O efeito espetador (ou difusão da responsabilidade) já sobejamente conhecido e estudado desde os anos 60.
Ou seja, perante uma situação de violência, os espetadores nada fazem presumindo que “alguém” fará queixa. Mas ninguém fez. Vale tudo para ter likes? A validação digital passou a ter esta dimensão desde quando? E que jovens são estes que consomem este tipo de violência? Onde foi que a nossa humanidade e empatia se perdeu?
É que com estes fenómenos cada vez mais assistimos a uma objetificação das pessoas e manipulação em prol do objetivo de ter melhor “engajamento” nas estatísticas das redes sociais. Quando é que começámos a criar robots em vez de pessoas? E sabemos que estas ideias extremistas são mais fáceis de plantar em mentes de crianças e jovens. Que futuro estamos a criar para nós próprios?
Veja-se o exemplo do jogo que circulou onde se incentivava o incesto e violência contra as mulheres. É este o novo normal? Quando falamos de violência contra as mulheres, também poderíamos falar de violência contra minorias. É preocupante ver este crescimento da masculinidade tóxica, de subjugação do outro mais frágil. E em prol do quê?
Enquanto pais há que estar mais atentos aos conteúdos que os vossos filhos veem e consomem e as ideias distorcidas que se formam nas suas cabeças. Sim há muita desinformação online e cabe-nos a nós adultos ajudar as crianças e jovens a filtrar determinadas informações.
Não há necessidade de diabolizar a tecnologia pois dependemos dela todos os dias, mas sim vigiar a qualidade da mesma. A violência, por exemplo o bullying cada vez mais comum, tem efeitos a longo prazo na vida de alguém. Agressores e vítimas necessitam de ajuda.
Quanto aos supostos influencers, há que combater o sentimento de impunidade. As nossas ações têm consequências sim. Não vale tudo para ter likes quando cometemos crimes e desrespeitamos o outro.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990