Opinião
Je suis Pai Natal #metoo
Como tua amiga – fictícia, eu sei, mas é esse o espírito – temo que comeces a duvidar da magia em particular e da empatia em geral.
Estimado @painatal,
Ia começar por dizer o quanto espero que te encontres bem, mas tendo em conta a tua inexistência, dei por mim um pouco atrapalhada com o início desta mensagem.
Queria dizer-te que em boa hora decidiste pela tua veracidade incerta ao longo das últimas décadas e, se me permites o conselho, continua assim como não és.
Entre ser ou não ser, deves continuar a apostar nesta última opção. Inclui a presença online, por mais que te custe largar o vício. A julgar pela quantidade de perfis com o teu nome nas redes sociais, diria que não é bom para ti passares o ano inteiro enfiado em casa. Esse nível de não existência é coisa de gente real.
Admito que fora da época de Natal te possas sentir um pouco vazio, mas acredita que uma hora de facebook consegue fazer isso pelo ano inteiro.
Como tua amiga – fictícia, eu sei, mas é esse o espírito – temo que comeces a duvidar da magia em particular e da empatia em geral.
Lamento, pai natal, mas as redes não são para ti.
Vivemos tempos sensíveis para que um homem do saco a presentear crianças sobreviva ileso ao Scrooge do teclado.
Ainda que somasses uns pontos na ala pró-Greta pela redução da pegada ecológica do teu trenó, serias seguramente enxovalhado em praça e presépio públicos por andares a abusar de renas voadoras.
Não ias aguentar o debate sobre o papel da rena na sociedade.
A orientação sexual da rena. O brunch da rena. O meme da rena com o Marcelo. O bolo sem glúten em forma de rena.
Por fim, normalmente de madrugada, uma indignação em maiúsculas de pessoa irritada com a sonoridade da palavra rena.
Para o ano que vem, a eloquência ressuscitará com abuso de pontuação: E das Renas? Ninguém fala??!?!?
Sugiro, por isso, que limites o teu perfil a frases motivacionais do género Acredite em si mesmo. Tendo em conta a tua condição, sabemos todos que é trapaça. Mas levas o like na mesma.
O mesmo é válido para O Natal é todos os dias. Já não sei se é dos tempos ou da falta dele, no singular.
O ruído cansa. Aliena. Desanima.
No fundo, querido pai natal, talvez não nos fizesse mal acreditar mais em ti.
Ainda que não ajude andares a vender smartphones em todos os ecrãs da época natalícia.
Dá-me ideia que a magia da coisa não é por aí. Vê lá isso.
Boas festas @painatal!