Opinião
Letras | Ana Moderno (2023) A Máquina das Emoções
Faz o anúncio de uma curadoria imaginativa e interrogativa para a infância e juventude
Quando se conhece pessoal e profissionalmente um autor, o leitor sempre acaba por confundir a vida com a obra – como aliás a formação imersa e submersa no paradigma da História da Literatura ensinou a minha geração a fazer...
Ana Moderno nasceu no concelho de Pombal, em 1977, e licenciou-se em Comunicação Social, variante Cultural, na Universidade Católica Portuguesa. Realizou uma pós-graduação em Museologia Social, na Universidade Lusófona de Lisboa, mestrado na área de Intervenção e Animação Artística, na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais-IPLeiria e é doutoranda em Estudos Culturais: Memória, Identidade, Território e Linguagem, na Escola de Doutoramento Internacional da Universidade de Santiago de Compostela (EDIUS). É curadora do MCCB – Museu da Comunidade Concelhia da Batalha, onde tem desenvolvido um trabalho educativo e formativo muito interessante, com a realização de palestras e tertúlias, abertura a um público dos mais novos com workshops variados e transversalidade com as áreas artísticas, alicerces do conceito museológico como um todo cultural, com abertura de horizontes a um leque variado de público, e motivação para investigação especializada em áreas específicas.
Por estas linhas a leitura da sua formação e o desempenho brilhante do seu trabalho de curadoria encontram uma chave explicativa, que se adensam quando a vertente da criação artística na arte da literatura se abre.
Faz parte do núcleo fundador da Minimalista, um projeto editorial independente na área da ficção (reúne cerca de 15 pessoas: escritores, designers e artistas vários), constituído recentemente para publicar edições cuidadas de romances ou antologias de contos de autores inéditos e com a obra publicada. Vitória – a romana que viveu na Batalha é de sua coautoria na área infantojuvenil e tem relações óbvias com a divulgação do MCCB.
Em setembro de 2023 aparece A máquina das emoções, com a aventura de Leo, inventor de uma máquina poderosa criada para controlar o mundo. Porém, a Lua fica gigante e prega-lhe uma partida e as emoções dos habitantes da Terra ficam todas descontroladas. Os heróis favoritos de Leo – Eifélio Torres, Albano, o Nadador do Oeste, Sudoku Carrapito – ajudam-no a resolver o caos em que se tornou o planeta. Mas será possível repor as emoções? E a Lua, voltará à normalidade?
Não estragarei a delícia de passear pela imaginação texto-teatral de Ana Moderno, a contadora de histórias, soberbamente ilustradas por uma sensibilidade terna e doce, quase onírica e intimista como a de Maraia (cuja veia estética não foi novidade para mim, porém algo me revelou da adolescente-mulher que permanece com olhos e traços de criança) e audíveis na voz poderosa e flexível da Andreia, melodiosa e modelante no audiolivro que o leitor poderá ouvir onde e quando lhe apetecer.
A máquina das emoções faz o anúncio de uma curadoria imaginativa e interrogativa para a infância e juventude. Que seja bem-vinda e bem recebida pelos leitores.