Opinião
Letras | Anais Leirienses – Dossiê 16
Relatos, testemunhos, textos de opinião muito próprios, muitos pessoais, muito vívidos de quem atravessou os tempos da Revolução e muitos dos que a antecederam nomeadamente na oposição à ditadura
Os Anais Leirienses, com o subtítulo estudos & documentos, são uma publicação regular – aproximadamente três números por ano – lançada em abril de 2019 pela editora leiriense Hora de Ler do editor Carlos Fernandes. Cada caderno é composto por artigos e trabalhos versando temas históricos, patrimoniais e culturais da área do distrito de Leiria e territórios limítrofes afins, como é o caso de Ourém.
Citando o Professor Saul Gomes, seu coordenador científico, estes cadernos têm principal propósito registar, para memória futura, o “conhecimento do passado e do presente da região a que pertencemos, nas suas múltiplas faces e identidades que a caracterizam (…)” Poderão estes Anais ser considerados como uma segunda série de trabalhos sobre a região, já que aparecem na sequência dos Cadernos de Estudos Leirienses (2014 – 2018) idealizados e coordenados pelos mesmos autores. Marcantes contributos para o conhecimento da Região bem como para a consolidação da História Local, ambas as séries.
Este Dossiê, agora lançado, é uma edição evocativa dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, coordenada pelo Professor Acácio Sousa, que, na apresentação do caderno, nos informa que “apresenta trabalhos que abordam tanto o longo período da ditadura, como os alvores do regime democrático até à estabilização da Democracia representativa (…)” Das suas 500 páginas metade é preenchida com relatos, testemunhos, textos de opinião muito próprios, muitos pessoais, muito vívidos de quem atravessou os tempos da Revolução e muitos dos que a antecederam nomeadamente na oposição à ditadura. Impossível nomear todos, mas igualmente impossível ignorar os textos/ homenagem à luta de corajosos oposicionistas como Henrique Vareda (por Alberto Costa), Alberto Ferreira (António Zúquete); os presos em Peniche e a sua libertação (Joaquim Vieira); a oposição democrática na Marinha Grande (Luís Neto) e em Ansião (Manuel A. Dias); evocações da vida do Portugal rural (Fleming Oliveira); perspetivas pessoais diversas de como aqueles tempos foram vividos em Leiria (João Cunha e António Faria); o relato emotivo acompanhado de fotografias comoventes de quem partiu com Salgueiro Maia para Lisboa. (Amílcar Coelho).
Sob o título “Memórias das Legislativas de 1969 e do país que ainda esperava tempos melhores”, inicia-se uma segunda parte do Dossiê com o Fac-Simile de uma entrevista ao Jornal República pelo antifascista Sérgio Ribeiro que, atendendo ao seu grave estado de saúde e sequente falecimento, não conseguiu infelizmente colaborar nesta edição. Segue-se uma completíssima “Galeria de imagens e documentos” que se inicia com uma fotografia da visita de Humberto Delgado a Leiria; um apanhado de “Notícias sobre as Comemorações dos 50 anos”; e uma ampla listagem de “Livros da luta, da inquietação, do regozijo e da história”.
Termina o editor o Dossiê com uma justa homenagem In memoram ao cineasta António-Pedro Vasconcelos, ilustre leiriense recentemente falecido, não sem antes reservar espaço para incluir seis artigos de diferentes temáticas na rubrica “Outros estudos”. Uma palavra de apreço para este excelente registo de memórias, bem como para a revista em geral e para a editora Hora de Ler.