Opinião
Letras | Aqui Nenhuma Bruxa Foi Atirada À Fogueira, Amanda Lovelace
Também se sente que é a poesia que enfim salva a autora e todas as mulheres sem voz
A escolha para a crónica deste mês incide sobre o tema da igualdade de género, da desmistificação do conceito das bruxas no reino da fantasia e na realidade da história ocidental das mulheres ordenadas a serem executadas nas fogueiras.
Amanda Lovelace, poeta que surge também ela duma realidade do metaverso com notoriedade evidenciada no Tumblr e Instagram, põe o dedo na ferida face às sociedades patriarcais, machistas e sexistas, que impuseram e ainda impõem um jugo sobre o corpo, as escolhas e a forma de amar das mulheres.
Defensora da causa queer, é antes de mais uma mulher que escreve para mulheres, tomando a fantasia do mundo das bruxas como um conceito de bondade na luta por um mundo mais justo e igualitário.
A escrita desta obra não é de fácil absorção e surge dos escritos reunidos em muitas fases de profunda angústia, com sabor a veneno na boca, de mutilação feminina no desejo, e a vingança naquilo que se espera ser apenas poesia. Digo “apenas” porque das palavras existe tanta realidade crua, que se entende a construção duma narrativa bélica para lutar contra o domínio e do poder instituído.
Mas também se sente que é a poesia que enfim salva a autora e todas as mulheres sem voz. Em tempos de muita agonia, onde as guerras e as disputas se fazem com o sangue de inocentes, fosse a poesia a arma mais cortante e o mandamento de salvação dos bons, independentemente das suas escolhas e crenças.
“Aqueles que consideram bruxa uma ofensa não podem estar mais enganados: bruxas são mulheres capazes de incendiar o mundo ao seu redor”.