Opinião
Música | A música em tempos difíceis
Já nem sei bem há quantos dias (uns vinte e tal) estou em isolamento social, expressão muito em voga nos dias de hoje e da qual poucos tinham ouvido falar até estalar esta pandemia
Pois muito bem, eu segui as recomendações gerais e fui mesmo mais além isolando-me de muitas outras coisas, a começar pela televisão dita generalista.
Ainda vi um ou outro noticiário, um ou outro especialista a comentar a atualidade, um ou outro Eixo do Mal ou Governo Sombra, até que desisti assim que a emoção começou a tomar conta dos jornalistas, analistas e outros especialistas.
Procuro agora a informação sem intermediários – vou direto à Direção Geral de Saúde e Organização Mundial de Saúde, confirmo que o mundo ainda não acabou e sigo com a minha vida.
Vida confinada, mas com muita música.
Música que me ajuda a trabalhar (essa coisa de agora termos tempo para ver as séries todas e mais algumas é uma boa tanga é…), música para as atividades com a minha filha que, com seis anos, está a achar isto tudo muito bizarro, música para tudo.
Tenho ali uma caixa de ansiolíticos para o que der e vier, mas até lá meter a mão, oiço música no Facebook, no Youtube, no Spotify, nos sites da especialidade, no gira-discos, na rádio, no leitor de CD, na televisão, onde calha oiço música.
E ouvir música ajuda a lidar com toda esta experiência que julgámos nós só acontecer no canal SyFI.
Nestes dias de trabalho, muito teletrabalho, oiço piano no Spotify: Maria João Pires, Daniil Trifonov, Yuja Wang, Khatia Buniatishvili, Martha Argerich e Menahem Pressler.
Ali junto à janela, onde tenho o gira-discos, oiço Velvet Mood, de Billie Holiday, OK Computer (OK Not OK – 1997-2017), dos Radiohead, Pellucidar A Dreamers Fantabula, de John Zorn, Deep in a Dream e It Could Happen To You, de Chet Baker, Greetings From Asbury Park, de Bruce Springsteen e The Ambient Collection, de Art of Noise.
Junto ao leitor de CD tenho duas caixas para partir em caso de emergência, o que já aconteceu: Anthologie, de Serge Gainsbourg e The Complete Columbia Albums Collection, de Leonard Cohen.
Isto leva-me a uma questão muito séria: se a música nos pode salvar a vida em tempos difíceis, quem salva a vida dos músicos, compositores, técnicos e toda a gente que trabalha com esta arte tão maravilhosa e que agora ficou sem rendimentos?
Bem sei que esta crise toca a todos, mas sendo esta uma coluna sobre música permitam-me fazer um apelo: procurem na internet as mil e uma maneiras de ajudar os músicos e, se puderem, ajudem.
Sem música, sem arte e sem solidariedade a Humanidade não resiste.
Resistam, fiquem em casa, oiçam música, porque “Vamos Todos Ficar Bem”.
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990