Opinião
Música | King Gizzard and the Lizard Wizard
Não sei se haverá muitas bandas destas a tocar por aí três dias seguidos sem repetir canções, assim como não deve haver muitas bandas no mundo a produzir discos desta maneira
A ver se não me enganei no título, que esta banda australiana não facilita em nada e está-se nas tintas para o mainstream. Os King Gizzard and the Lizard Wizard (KGLW) estiveram em Lisboa para uma série de três concertos no Coliseu dos Recreios e no dia 18 de maio arrancaram prego a fundo com um alinhamento onde dispararam artilharia dos Doors, Grateful Dead, Slayer e de tantas outras bandas que só eles devem conhecer, principalmente do psicadelismo de anos longínquos.
Não sei se haverá muitas bandas destas a tocar por aí três dias seguidos sem repetir canções, assim como não deve haver muitas bandas no mundo a produzir discos desta maneira: desde 2012 já lançaram 27 discos de originais. E o mais incrível, é que no laboratório deste pessoal juntam-se as sonoridades mais variadas que nem me atrevo a enunciar – mas vão a (quase) todas, com o rock clássico a servir de distribuidor de jogo. No concerto que vimos, a primeira de três partes, resultou numa experiência inesquecível com tudo a que temos direito num espetáculo de rock: eletricidade puxada ao limite (sem apagão), público a vibrar intensamente e os músicos em palco a darem tudo o que têm e não têm – o vocalista Stu Mackenzie, puxou mesmo de uma máquina e rapou o cabelo em pleno palco. Noutros tempos, teria participado no slam dance que varreu a plateia, mas a partir da bancada também deu para sentir toda aquela energia, principalmente de gente mais nova do que eu uns 20 anos. Já não vou a muitos concertos deste calibre, muito menos a festivais, mas se houver por aí mais bandas como esta, convidem-me, que eu vou. Sim, há os Idles e os Fontaines D.C, já ouvi dizer.
Ao vivo, já se percebeu que os King Gizzard and the Lizard Wizard são uma máquina, mas fora do palco, o grupo mantém uma identidade muito vincada, mantendo-se afastado da indústria musical. Há uns anos, chegaram a assinar um contrato com uma editora nos Estados Unidos, mas não gostaram da onda e saltaram fora. Agora, todos os elementos da banda têm funções extramusicais e são eles os donos e senhores dos seus destinos, desde o marketing, agenciamento ou a construção de alguns instrumentos. Para além de tudo isto, os KGLW têm uma voz muito ativa na defesa dos direitos das minorias e num sem número de causas, que nos parecem todas merecedoras de uma cúpula de ferro.