Opinião

Música | O punk rock de Yoshitomo Nara

23 ago 2024 08:42

A atitude rebelde e contestatária e, principalmente, algum do ativismo antiguerra, estão bem presentes nas suas obras, que podem ser vistas agora pela primeira vez na Europa numa exposição em nome individual

Antes de entrar a fundo no dolce far niente algarvio, rumei até ao País Basco para uns dias turísticos com o objetivo principal de visitar o Guggenheim, em Bilbau, um museu magnífico que só agora tive oportunidade de conhecer. Coleções incríveis, arquitetura estonteante e uma exposição do artista japonês Yoshitomo Nara, que só por si vale a viagem. Tate em Londres, Lousiana em Copenhaga e Guggenheim em Bilbao, talvez os museus de arte moderna que mais gostei de visitar até ao momento.

A obra de Yoshitomo Nara é profundamente influenciada por várias correntes musicais como o rock, o punk, a pop, a folk ou o indie. The Beatles, The Rolling Stones, Ramones, Sex Pistols, David Bowie, Bob Dylan ou The Smiths, eram alguns dos artistas que Nara ouvia no Japão enquanto jovem (chegou mesmo a contruir um rádio que apanhava as músicas que chegavam dos Estados Unidos da América para os soldados americanos estacionados no Japão). A atitude rebelde e contestatária e, principalmente, algum do ativismo antiguerra, estão bem presentes nas suas obras, que podem ser vistas agora pela primeira vez na Europa numa exposição em nome individual.

As músicas “Love or Die” da cantora folk americana Emmylou Harris, “Too Young to Die” dos Jamiroquai, “Slash with a Knife” da banda punk japonesa The Star Club, “Don't Blame the Youth” do cantor de reggae Peter Tosh ou “I Don't Mind, If You Forget Me” da banda britânica The Smiths são títulos que refletem como a música influencia o conteúdo e a estética das obras de Nara.

A cultura indie dos anos 1980 e 1990, com bandas como Sonic Youth e Pixies, também impactou a obra de Yoshitomo Nara, assim como a estética visual das capas de álbuns, especialmente de vinis de rock e punk. A arte gráfica associada a esses álbuns, aparece frequentemente na obra de Nara, que tem uma grande paixão por colecionar discos e capas de álbuns

Mas um dos temas mais recorrentes (e conhecidos) na obra de Nara é a representação de crianças que parecem simultaneamente inocentes e rebeldes. Esses personagens, muitas vezes com grandes olhos expressivos e feições sérias ou desafiadoras, refletem uma mistura de vulnerabilidade e resistência, simbolizando uma luta interna entre a pureza infantil e a agressividade do mundo adulto.

PS – Agora que chego ao nosso país, dou conta que alguns jornais portugueses foram convidados pelo Guggenheim a visitar a exposição. Mas por aqui não chegou convite nenhum, o único apoio que tive para escrever este artigo foi da Internet e mesmo assim com falhas, que a NOS em Vilamoura funciona muito mal.