Opinião
Música | Za! & la TransMegaCobla
O que se viveu naquela hora de fim de tarde, na Nascente do Lis, foi uma profunda celebração da Vida
No documentário Somos Punks ou não? sobre os 5ª Punkada, a certa altura o guitarrista Jorge Maleiro, deslumbrado com o momento de co-criação que se vivia na gravação do disco, dizia que tinha nascido para a música, porque a música é a vida.
A vida oferece-nos momentos ora harmoniosos ora intensos e frenéticos. O dia a dia caminha num ciclo que tanto nos parece aparentemente controlado como por vezes se revela absurdamente caótico.
Temos a noção de que quanto mais contextos e realidades conhecermos, mais nos preparamos para os dias que se aproximam.
No final da tarde do passado sábado, o Nascentes recebeu o concerto catártico de Za & la TransMegaCobla e dei por mim a matutar esta máxima de que "A Música é a vida".
Quando vivíamos uma pandemia, a genial, eclética e irrequieta dupla Za! juntou-se ao duo feminino de vozes cristalinas e folk transfigurado, as Tarta Relena e, para adensar ainda mais a exploração, convocaram um quarteto de metais do histórico colectivo Cobla Sant Jordi (que já tinha gravado um disco a meias com Pascal Comelade há uma dúzia de anos).
Resgatando a língua fenícia como base e cruzando toda a tradição coral, instrumental e melódica do Mediterrâneo com linguagens sonoras contemporâneas, os Za & la TransMegaCobla são a prova de que a co-criação entre as partes pode ter um resultado muito superior à soma dos seus valores individuais.
Não é a primeira nem segunda nem terceira vez que tenho a oportunidade de ver os Za! e conseguem sempre surpreender mas, desta vez, o duo passou a octeto que funde os vastos universos musicais de três projectos tão diferentes numa odisseia sem fronteiras.
O que se viveu naquela hora de fim de tarde, na Nascente do Lis, foi uma profunda celebração da Vida, tal como ela é. Com uma diversidade e intensidade que raramente conseguimos viver e testemunhar.