Opinião
Neste caso o que observo não, não são coisas do arco da velha
Apesar de instruídos, ignoramos e aceitamos a irracionalidade das nossas crenças e elegemos políticos desumanos, corruptos ou sem um pingo de ética
Como são para mim tão inacreditáveis os comportamentos humanos que ando a observar dentro e fora do meu País apeteceu-me apelidá-los com uma expressão que só ouvia, por vezes, à minha mãe e de que eu não gostava nada. Era algo ser, para ela, do arco da velha.
Na altura (e até hoje), não percebia por que a minha mãe, uma pessoa humanamente tão bem formada, utilizava perante algo inusitado, mas não forçosamente mau a figura de uma velha com um arco. Uma velha que eu imaginava como uma entidade malévola que, fatalmente, utilizaria sempre o arco para fazer mal aos outros.
Vai daí, só agora, na tentativa de encontrar uma expressão, tipo guarda-chuva, que albergasse a gritante falta de ética de Luís Montenegro, as monstruosas ações do Estado de Israel e as inconcebíveis decisões do ditador Trump, é que me dispus a pôr um fim ao porquê da não atribuição de uma intenção malévola às coisas apelidadas pela minha mãe, como sendo do arco da velha.
E claro, como não podia deixar de ser, na génese deste “enigma” esteve a minha ignorância! Consultando os entendidos fiquei a saber que, não só a velha não é uma pessoa, mas uma referência à “Velha Lei” dos cristãos, como o arco se refere ao arco-íris que surgiu no céu na altura do dilúvio relatado na Bíblia. E sim, é um facto, o mantermo-nos impávidos e serenos perante o que não compreendemos e por isso ignorantes, acarreta sempre más consequências.
Algumas bem graves como, por exemplo, quando a frustração, aquele sentimento de revolta por não termos o que desejaríamos ter e de não sermos o que gostaríamos de ser, gerada pela ignorância nos cria a necessidade de formar grupos com outros tão ignorantes como nós para nos sentirmos fortes, poderosos e por isso seguros para estar no patamar dos que são mais ricos, por terem acumulado mais conhecimento.
E pior do que isso é quando, apesar de instruídos, ignoramos e aceitamos a irracionalidade das nossas crenças e elegemos políticos desumanos, corruptos ou sem um pingo de ética. Se for verdadeira aquela frase de Aristóteles que diz que convencer um ignorante é o mesmo que conversar com um cadáver temo que, em breve, o viver em democracia seja coisa do passado.
Tenho medo que no seio de tanta ignorância, algum irritado, mas instruído ultraliberal não apareça por aí a questionar a legitimidade da democracia. Entretanto e voltando à necessidade de encontrar uma expressão onde caibam os pouco éticos e desumanos comportamento dos que comandam o meu mundo próximo e distante terei de continuar a procurar!
É que os comportamentos que neles observo, apesar inusitados, são tão graves que não, não os posso apelidar apenas de coisas do arco da velha!
Texto escrito segundo as regras d0 Novo Acordo Ortográfico de 1990