Opinião
Pois foi, corri a fazer o Presépio!
De repente, ponho-me a refletir sobre o que falhou na formação dos jovens do meu tempo
Este ano, ainda não me apeteceu fazer o Presépio e sinto-me até a olhar para as luzes e manifestações natalícias que me são oferecidas na cidade, como algo quase artificial e sem sentido. É como se a catadupa de horrores que se andam a passar no mundo, me tivesse acordado de um sonho (em que eu me via numa humanidade em evolução) e me largasse na brutal e feia realidade provocada pelo agir dos senhores da guerra e interrogo-me: como chegámos aqui?
Sem querer vem-me à memória aquela frase de Sócrates, nascido no ano 420 antes de Cristo e que culpava a má formação dos jovens por todos os males que ao mundo, pela mão humana, iriam chegar. Recordo-me de como ao ouvi-la repetida, vezes sem conta, pelos mais velhos e até na escola, ela me irritava e eu logo me dispunha a demonstrar a sua falsidade.
Porém, agora dou comigo a já não pensar assim! De repente, ponho-me a refletir sobre o que falhou na formação dos jovens do meu tempo. No que falhou para termos, entre outros, Putin, Netanyahu e Trump no governo do mundo? E sim, falhou, certamente, aos responsáveis por definirem as finalidades da Educação o não levarem em conta o disse George Steiner: “saber que um homem pode ler Goethe ou Rilke à noite, pode tocar Bach ou Schubert e depois, na manhã seguinte, ir para o seu trabalho em Auschwitz”.
Falharam também os bons políticos ao não perceberem que tão assassinos são os ideólogos e fazedores das guerras como os seus subalternos quando, mesmo contra os seus valores, executam servilmente as ordens desumanas que lhes são dadas. Não perceberam que se a educação nada poderia fazer pelos primeiros muito poderia ter feito por quem os serviu ou neles votou.
Falhou, por último, a escola que, mesmo depois de Auschwitz, se manteve só preocupada em ensinar conteúdos disciplinares, desprezando a educação para a paz como um sentido da vida. Confesso que às voltas com estes falhanços do passado descobri os porquês do meu atual desânimo com o Natal: na formação dos jovens do meu tempo o que falhou e deu origem a este estado do mundo, hoje continua a falhar!
E eis que de novo me surge como falsa a opinião de Sócrates! E é falsa porque não poderá ser jamais atribuída aos jovens a culpa de uma má formação. Essa culpa caberá sim aos adultos, seus formadores.
Ora, descoberta a causa do meu desânimo com o Natal rapidamente me propus a acabar com tal desconforto! Situei-me no grupo a que pertenço, o dos subalternos e servidores, desta vez dos poderosos mercados, expulsei de minha casa o Pai Natal “Coca Cola” e corri a fazer o Presépio.
Entretanto sinto o espírito do Natal e penso que, se a sua mensagem for levada a sério, ainda há esperança…
Texto escrito segundo as regras do novo Acordo Ortográfico de 1990