Opinião

Ai, ai, Escola!

9 mar 2024 10:14

Era mesmo com amor que eu tratava a falta de civilidade e civismo de todos os alunos

Não sei o que pensam os outros, mas eu, pela primeira vez, vou votar contrariada! Não aceito que uns procuradores que deixam existir como partido uma organização xenófoba e racista, que surge como uma verdadeira ameaça para a democracia em Portugal, tenham tido o desplante de, pelos vistos, por causa de umas palavras que, escondidos, escutaram a António Costa, tenham provocado a demissão do Governo dois anos antes do fim da legislatura! E a minha insatisfação não se fica por aqui!

Quando eu esperava que, excetuando um, todos os restantes partidos, com a devida empatia, questionassem o ocorrido, não! Rapidamente, tal como os abutres fazem, logo se dispuseram a iniciar o “festim”! Estivesse eu sem obras na cozinha e a poder conversar com os legumes, com os ovos e com tudo o resto que lá utilizo e já teria sido capaz de lidar sem raiva com esta minha frustração. Mas assim, só aos poucos me vou sentindo a conseguir tal coisa.

Curiosamente, iniciei esse processo graças à enorme desarrumação que a ausência de uma cozinha funcional anda a provocar aqui em casa. Neste caos dei de caras com a frase “mais amor por favor” impressa num dos encantadores sacos da livraria Arquivo. E parei, parei mesmo e deixei-me estar ali a recordar como, de facto, era mesmo com amor que, quando necessário (para que nas aulas todos nos sentíssemos a ensinar e a aprender), eu tratava a falta de civilidade e civismo de todos os alunos. Sim, era com amor que lidava com as frustrações daquelas crianças, provocadas, em parte, pelo desamparo em que se sentiam a viver, pelo desespero de se acharem incapazes de fazer bem, pelos gritos de raiva ignorados e reprimidos pelas regras dos espaços e dos adultos.

Aliás, nestes tempos de cansativas sondagens e manifestações, eu até gostava que alguém aproveitasse os professores que andam nas ruas para conhecer a resposta que com mais frequência dariam à seguinte questão: concorda com a ideia de que a escola deverá servir só para instruir e a educação deverá ser, exclusivamente, da responsabilidade da família? É que tenho para mim que o sim ainda hoje ganharia ao não e que é nessa ideia de escola que reside o facto de termos procuradores a exercerem o seu imenso poder de uma forma tão, soberbamente, leviana, gente pobre a defender a privatização das escolas e dos serviços de saúde e cidadãos adultos e jovens que, incapazes de gerir as suas emoções, se põem de joelhos ao serviço de crápulas antidemocráticos que parasitam a política em democracia.

E foi assim que dei por mim a responder, agora já com menos raiva, à contrariedade que me foi imposta. Por acreditar no poder da escola para melhorar a forma de ser e agir dos cidadãos decidi que vou votar em quem a tem vindo a defender assim: pública; parceira dos pais na educação dos seus filhos; sabedora que não pode continuar a ser apenas um local de instrução. E não me foi difícil tomar esta decisão. Nos programas dos partidos foi-me até bastante fácil identificar os que se propõem a acolher sem reserva os sábios e matreiros “vendilhões do nosso laico templo”!