Opinião
Vivam os livros!
Todos os problemas que surgem ligados à saúde, educação e habitação, são sempre noticiados como exclusivos de Portugal
Com o objetivo de respeitar a liberdade de quem vive comigo, todos os dias aceito ser agredida pelos arautos da desgraça em que, para mim, se transformaram os jornalistas de quase todos os canais de televisão. Na luta pelas audiências até compreendo a procura desenfreada por notícias chocantes, tal é a sua relação com a atenção dos espetadores.
Mas nos canais que se afirmam não ‘popularuchos’, custa-me a crer que não haja uma qualquer agenda secreta quer dos diretores de informação quando escolhem as notícias, quer por parte de quem escolhe os comentadores que, sem contraditório, divulgam, nas horas nobres das emissões televisivas, as análises que mais convêm aos seus interesses partidários.
E sim, sinto que tenho razão porque todos os problemas que surgem ligados à saúde, educação e habitação, são sempre noticiados como exclusivos de Portugal e nunca como existentes também em quase todos os países da União Europeia. Então, não seria mais útil dar-nos a conhecer as estratégias que a UE anda a trabalhar para resolver esses problemas comuns?
Por outro lado, sabendo-se da baixíssima autoestima dos portugueses (o que vem de fora é que é bom) e de como são dados ao pessimismo, o remoer, vezes sem conta, as notícias más, desprezando, quase completamente o que todos os dias de bom se faz neste País, faz-me questionar por onde anda a sensibilidade dos diferentes diretores desses canais televisivos.
É que nós sabemos e eles também sabem que o sentimento de confiança dos cidadãos se relaciona com o tipo de informação repetida e com a forma como ela lhes é servida e que, por isso, o repetir milhares de vezes as mesmas más notícias lhes irá criar uma sensação de que os problemas ainda são piores do que na realidade eles são!
Interrogo-me, por causa disto, no que levará os vários diretores dos canais ‘não popularuchos’ não só a desprezarem este conhecimento como ainda a contribuírem para que os portugueses (que como não leem jornais, se põem passivamente à frente dos ecrãs a receber a informação falsa ou já digerida por outros) se sintam, a cada dia que passa, mais pessimistas e depressivos. Pela minha parte decidi pôr um fim nesta situação.
Como disse António Barreto, num texto sobre as notícias na televisão portuguesa, publicado no Diário de Notícias, em 25 de setembro de 2016, também para mim é desmoralizante achar que é democracia ver brotar nas televisões práticas de submissão ao poder e aos partidos e desprezo pela isenção jornalística e por isso, optei, apesar de continuar sentada no meu sofá, a não os ouvir e a concentrar-me noutros assuntos.
Agora, por exemplo, enquanto Paulo Portas, parecido com um robot repleto de inteligência artificial, no ecrã da TV, me quer convencer que só a sua AD pode salvar o meu País da ruína, eu estou a ler um pequeno livro fantástico de reflexões e debates da SPA, sobre “Inteligência Artificial e Cultura- Do Medo à Descoberta”, publicado pela Gradiva, nos finais de 2023.
E que boa foi esta minha decisão! Está a saber-me tão bem, nesta leitura, não me sentir manipulada que só me apetece gritar: vivam os livros!