Opinião
O fim do milagre chinês
A economia da China pode, finalmente, ter chegado ao fim de um percurso de 40 anos de crescimento elevado
A economia chinesa debate-se com vários e intrincados problemas: elevado desemprego, envelhecimento da população, deflação, crise imobiliária, etc. Este emaranhado parece sinalizar que a economia da China pode, finalmente, ter chegado ao fim de um percurso de 40 anos de crescimento elevado.
Em julho, a segunda maior economia do mundo entrou oficialmente em deflação, com os preços no consumidor a caírem 0,3 por cento. Paradoxalmente, embora os preços mais baixos possam parecer apelativos para o consumidor médio, os economistas consideram que a deflação tem um impacto negativo na economia – quando os preços caem durante um período prolongado, os consumidores reduzem as despesas e as empresas reduzem a produção - o que, por sua vez, pode resultar em despedimentos e crise.
Após o levantamento das duras restrições associadas à política “zero Covid”, esperava-se uma franca recuperação da economia, mas vários bancos de investimento baixaram recentemente as perspetivas da China para 2023, pondo em causa a capacidade do governo chinês para atingir a meta de uma taxa crescimento do PIB de 5%.
Quanto ao desemprego jovem, ele é tão alto que as entidades deixaram de publicar os seus dados oficiais (o Serviço Nacional de Estatística (NBS) anunciou que as estatísticas atuais “precisam de ser melhoradas”).
A China enfrenta ainda uma crise imobiliária/financeira, desencadeada pelas dificuldades do Grupo Evergrande e de outros promotores imobiliários, na sequência de novos regulamentos chineses sobre os limites ao montante de dívida que estas empresas podem assumir.
Estas e outras dificuldades económicas sentidas pela China levaram alguns observadores a recordar as complexidades enfrentadas pelo Japão, no início dos anos 90, quando o colapso de uma enorme bolha de ativos resultou num ciclo de décadas de deflação e crescimento estagnado (um fator adicional que ambas as economias partilham são as baixas taxas de natalidade).
Embora possa ser demasiado cedo para preconizar uma “japonização” da economia chinesa, já que a China parece possuir mais margem para continuar a crescer do que o Japão tinha no início dos anos 90, a verdade é que os dados económicos e abordagem política das autoridades (mais focada em firmar uma ideologia do que em liberalizar os mercados, como se viu com casos como o da Alibaba), marcam o fim do milagre chinês.
Resta saber quais as implicações deste abrandamento na configuração da competição global (com países como a Índia e Vietname a assumirem um papel de relevo na atração de investimento), bem como no modelo de sociedade e governança chinês. Será que o modelo autocrático sobreviverá a uma economia em velocidade lenta?