Editorial

O poder da (des)informação 

8 dez 2022 10:07

Os ataques calculados aos que já são estigmatizados, podem partir do nada, de ideias pouco ou nada fundamentadas, mas tornar-se numa espécie de factos, aproveitados para inflamar opiniões

Em dias de euforia desportiva, de orgulho nacional pela passagem à fase seguinte de um Campeonato de Mundo de Futebol, escolhemos falar sobre informação. Todos sabemos que há muita, a qualquer hora do dia, no computador, na televisão, no telemóvel. Até há nas bancas, em formato de jornal ou de revista, mas isso é outra conversa.

Falando apenas da fugaz informação que nos entra por via digital, daquela que se consome para ter nota do acontecimento ao minuto, pode servir para muitos fins. Para prevenir catástrofes, para tomar decisões ou simplesmente para inchar o peito na pausa para o café e formar uma tertúlia em torno do assunto do momento. Seja ele real ou imaginário. A dúvida é saber os efeitos secundários deste quase vício pelo efémero.

Vamos a factos! Há uns bons meses, alguém se lembrou de criar uma página na internet com o sugestivo nome leirianaoexiste.pt. A informação espalhou-se pelas redes sociais. Formaram-se grupos de discussão, a favor e contra. Elaboraram-se ensaios literários sobre a questão, criaram-se desbloqueadores de conversa, e, pasme-se, elevou-se o tema à condição de teoria negacionista. A tal ponto, que um humorista decidiu inclui-la na sua mais recente compilação sobre teorias negacionistas.

Estão a ver onde isto já vai? Começou com uma ideia estapafúrdia, tornou-se viral com o esgrimir de comentários, arregimentou os que acham que anda no ar uma qualquer teoria da conspiração, deu matéria para engrossar um livro e levou, inclusive, a que alguns se dessem ao trabalho de “tentar demonstrar” que Leiria existe e faz parte da História de Portugal.

Agora, com este exemplo em mente, experimentem ler com atenção a entrevista plasmada nas páginas 6 e 7 deste jornal. No mínimo, será fácil depreender que qualquer semelhança com a realidade poderá não ser apenas uma mera coincidência. E que, à escala, os ataques calculados aos que já são estigmatizados, podem partir do nada, de ideias pouco ou nada fundamentadas, mas tornar-se numa espécie de factos, aproveitados para inflamar opiniões e daí retirar dividendos políticos.