Opinião

O que a imagiologia não vê

14 mar 2019 00:00

Nos hospitais o cerco é mais requintado. O novelo da burocracia retira a liberdade da cobardia e da desistência e dificilmente se consegue sair da máquina branca.

Por razões várias, conheço bem hospitais. E centros de imagiologia e valores de referência, marcadores tumorais, sedações e cateteres, transfusões de sangue, cirurgias e pós-operatórios.

Sei muitos nomes de doenças e tendo a não simpatizar com o sector da saúde. Por razões pessoais preciso de fazer exames imagiológicos de rotina e a condição de regime ambulatório parece-me sempre a de contornos mais amigáveis.

Pode ou não estar-se doente e o sistema dá-nos, ainda, o benefício da dúvida. Tal como eu a mim própria, que a meio do percurso posso sempre pegar nos meus pertences e pura e simplesmente recusar a indiscrição tola das imagens que me pesquisam o corpo e tentar esquecer que ele adoece.

Nos hospitais o cerco é mais requintado. O novelo da burocracia retira a liberdade da cobardia e da desistência e dificilmente se consegue sair da máquina branca.

À entrada no gabinete da ressonância magnética que fiz há dias a ordem de comando é sempre a mesma. “Retire tudo. Guarde os seus valores, vista a bata e resuma-se ao seu corpo”.

Antes de entrar numa sala de radiologia ocorre-me com regularidade este pensamento.

O resto irredutível que nos fica dos dias é tão só este - o corpo que vai ser escrutinado. Um corpo sem nada, sem condição social, académica ou família, a bata, as máquinas, os técnicos, os médicos e o diagnóstico que virá a seguir.

E, no entanto, todos aqueles aparelhos de gran

Este conteúdo é exclusivo para assinantes

Sabia que pode ser assinante do JORNAL DE LEIRIA por 5 cêntimos por dia?

Não perca a oportunidade de ter nas suas mãos e sem restrições o retrato diário do que se passa em Leiria. Junte-se a nós e dê o seu apoio ao jornalismo de referência do Jornal de Leiria. Torne-se nosso assinante.

Já é assinante? Inicie aqui
ASSINE JÁ