Opinião

O silêncio e a representação

21 mar 2025 11:22

Não está na altura de mudar o modo de eleição dos nossos representantes? É que cada deputado só tem de responder perante o Partido que o escolheu (não perante os portugueses), como o exige a disciplina partidária

Meu Caro Zé 
Vamos ter eleições outra vez, embora a grande generalidade dos portugueses e também a maioria dos seus “representantes” (os deputados) achem que não era bom ter eleições, mas votaram que sim. Perplexo? Não vale a pena, senão não consegues andar com “a boca fechada”! Mas olha, desta vez, os “representantes” (com aspas, que já explico) passaram mesmo a representantes (sem aspas) porque no final da votação nem uma mosca se ouvia no Parlamento. Caíram em si, ninguém bateu palmas, porque sabiam que todos perdemos. Aí estiveram com o povo português.

O Presidente da República, ao convocar as novas eleições que “os portugueses não queriam” vem desejar que elas deem força aos portugueses para “controlarem os seus representantes e os seus governantes”. Como? Representar quer dizer “tornar presente” e isso exige ao representante responsabilidades perante quem é representado, em particular não trair os compromissos que assumiu com a representação. E o maior compromisso é a defesa do bem comum, a defesa do País. E o Presidente da República também disse que o País não queria eleições. Logo os nossos “representantes” não defenderam o País.

E o que é que vamos fazer? Colocar outra vez no parlamento a grande maioria dos mesmos que não foram capazes de colocar o País à frente dos seus interesses partidários ou pessoais. Faz isto sentido? É que não somos nós que, verdadeiramente, escolhemos os nossos representantes. Votamos em emblemas, esperando que, ao menos, eles sejam expressão de ideias e objetivos claros e para cumprir, mas é cada partido que escolhe quem põe nas listas e, por isso, bem mais de metade dos deputados já está eleita assim que os partidos apresentarem as suas listas.

E lá estarão aqueles que agora furtaram os desejos do povo português. E a eleição é para eleger os deputados e não o primeiro-ministro como agora se inventou. Então numa lista com 48 deputados (caso de Lisboa) e já que somos obrigados a “engolir” os nomes que lá põem em cada lista, faz sentido olhar para o tal putativo primeiro-ministro e ignorar os outros 47 na escolha? É ele que controla os deputados ou o contrário? Não esquecer que o primeiro-ministro é, habitualmente, um dos deputados eleitos, pois, tradicionalmente, mas não obrigatoriamente, o Presidente da República designa como primeiro-ministro o líder o partido mais votado, depois de ouvir os Partidos e tendo em conta os resultados eleitorais, mas não tem de ser assim.

Não está na altura de mudar o modo de eleição dos nossos representantes? É que cada deputado só tem de responder perante o Partido que o escolheu (não perante os portugueses), como o exige a disciplina partidária. Se o não fizer deve sair do Partido e não ficar no Parlamento, pois não tem mandato pessoal, mas fica. Como votar então? Por ora fica a pergunta. Até sempre 

Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990