Opinião
O silêncio isolado das mulheres que não conseguem engravidar
Muitas mulheres ficam frustradas, ansiosas e deprimidas quando o desejo de ser mãe não se concretiza
Os números não enganam! Existem em todo o mundo, cerca de 50 milhões de casais que não conseguiram ter um filho depois de 5 anos de tentativas. Em Portugal são cerca de 300 mil, os casais inférteis. Números altos, que representam um problema de muitas pessoas e que mesmo assim ainda se apresenta como um assunto tabu na grande maioria das vezes.
Recentemente a Organização Mundial de Saúde trouxe o tema para a discussão pública e alertou que uma pessoa em cada seis sofre de infertilidade, mostrando a necessidade urgente de aumentar o acesso aos cuidados de alta qualidade e a preços acessíveis para as pessoas que necessitam. Esta situação revela-se angustiante para os casais, mas são as mulheres quem mais sofre neste tipo de situações.
Ainda existe uma cultura presente na sociedade atual que à mulher é obrigatório ser mãe. Frases como: “Estás à espera do quê, já não vais para nova?” ou por exemplo “As tuas amigas já são todas mães, só faltas tu”. Este tipo de abordagem acontece muitas das vezes nas reuniões de família onde muitos se esquecem do que pode estar por detrás da situação.
Muitas mulheres ficam frustradas, ansiosas e deprimidas quando o desejo de ser mãe não se concretiza. Na grande maioria das vezes guardam o problema para si e não o verbalizam com as pessoas mais próximas acabando por sofrer sozinhas e em silêncio, sem qualquer tipo de apoio, com a agravante que existe uma clara relação entre o estado emocional e a fertilidade.
O stress diminui a capacidade reprodutiva tanto na mulher como no homem. Talvez por todas estas razões este tipo de assunto deveria ser abordado mais vezes e mais cedo de forma a criar uma estrutura emocional à volta das pessoas que sofrem do diagnóstico de dificuldades em engravidar.
Uma mulher que se sinta apoiada também ao nível técnico será com toda a certeza uma pessoa mais confiante e com mais capacidade para lidar com a situação. Uma das recomendações que podemos encontrar no site do Serviço Nacional de Saúde é que o apoio da família, dos amigos e dos profissionais de saúde é, por todos os motivos, muito importante e de grande utilidade.
Ali também é definido como essencial a comunicação dos sentimentos que a mulher está a viver ao longo de todo o processo. Felizmente, no nosso País, as pessoas já podem recorrer ao Serviço Nacional de Saúde que comparticipa a Fertilização In Vitro às mulheres com menos de 40 anos e a Inseminação Artificial às mulheres com menos de 42 anos.
Falar do assunto publicamente, mostrar que há outros caminhos para superar o problema e proteger as mulheres, dizendo-lhes que não estão sozinhas e transmitindo-lhes apoio, segurança e também a possibilidade e a normalidade de recorrer à ciência para chegar mais facilmente ao sonho de ser mãe.