Editorial

O último editorial

16 jul 2020 10:12

As pessoas, sempre as pessoas, que são, indubitavelmente, o que faz a diferença, para o bem e para o mal.

Hoje escrevo pela última vez neste espaço, que ocupei na esmagadora maioria das edições dos últimos 16 anos.

Como é natural, o que aqui foi escrito ao longo desses anos agradou mais a algumas pessoas do que a outras, tendo algumas ficado mesmo melindradas e, num ou noutro caso, recorrido à justiça por se sentirem ofendidas.

Também é verdade que uns textos foram mais conseguidos que outros, e que alguns deles não foram merecedores do espaço que ocuparam, sendo mais fácil, como é óbvio, perceber isso com a distância do tempo do que aquando do momento da escrita.

Em nenhum deles, e foram perto de oito centenas, houve, no entanto, qualquer tipo de motivação para lá da análise da actualidade e de contribuir com mais uma opinião para o debate público que, em tudo o que é do interesse geral, nas diferentes áreas da sociedade, é importante fazer-se.

Uma lógica, aliás, que tem sido seguida em todo o jornal, assumidamente defensor de causas públicas, nomeadamente as desta região, e que sempre procurou o rigor e a isenção, sem nunca abdicar da liberdade que a nossa democracia lhe oferece.

Foi sob esses princípios que ‘herdei’ a direcção do Jornal de Leiria do Engº. José Ribeiro Vieira, o seu grande mentor, e foi isso mesmo que tentei respeitar, juntamente com a restante equipa, profissionais de elevada qualidade e dedicação no desafio de informar, provocar debate e ajudar a construir opinião.

Só assim, com uma população esclarecida, dotada de espírito crítico e muito exigente, será possível esta região continuar a afirmar-se como uma das melhores do nosso País para viver, a manter a sua pujança económica e a desenvolver-se em áreas críticas como a educação, a cultura e o ambiente.

Pois se é inegável que na última década e meia esta região melhorou em muitos aspectos, também é verdade que há problemas, tão graves quanto inadmissíveis, que continuam por resolver, com as descargas das suiniculturas, a degradação da costa e a falta de unidade/estratégia regional à cabeça, para não referir o défice notório de um pensamento progressista e mais ousado dos principais decisores políticos.

As pessoas, sempre as pessoas, que são, indubitavelmente, o que faz a diferença, para o bem e para o mal.

E se houve algo que estes 16 anos na direcção do Jornal de Leiria me mostraram (ou confirmaram), é que há, sem dúvida, pessoas muito melhores do que outras em cargos de responsabilidade, seja na política, na gestão pública, no movimento associativo ou na vida empresarial.

Melhores não apenas tecnicamente, na capacidade de trabalho e na visão estratégica, mas também noutros aspectos determinantes para termos uma sociedade melhor, como na generosidade, na solidariedade, no humanismo e na gratidão.

No fundo, na capacidade em olhar mais para o outro que para o próprio umbigo, sendo óbvio que precisamos bem mais de uns do que dos outros.

Será na ajuda dessa escolha, na dos melhores, contribuindo para uma população esclarecida, com maior espírito crítico e mais exigente, que estará a grande missão de qualquer jornal nos dias de hoje.

Será, certamente, isso que o Jornal de Leiria continuará a tentar fazer com todo o profissionalismo da sua equipa, mas também com a ajuda dos seus opinadores, parceiros, clientes e de todos quantos o lêem, a quem deixo o maior agradecimento por todo o apoio no caminho que agora deu uma curva.