Opinião
Ouro sobre azul: é Natal!
Li algures que o objetivo habitual da agressão é dominar as outras pessoas para que fiquem menos capazes de expressar e defender as suas ideias
Sim, eu sei. O Natal está a chegar e sentir-me-ia mal a dizer que não acredito na humanidade, quando sei que ao mesmo tempo que os humanos fazem a guerra também são capazes de construir a paz. O problema é que, através da minha janela de observação, apenas vejo tal acontecer, quando a necessidade de um indivíduo se sentir a pertencer a uma tribo o obriga a exibir-se como fazedor da paz perante os seus, agredindo, duramente, um que dessa sua tribo não faça parte!
Dou-me conta de que a agressividade que hoje quase suporta os discursos de muitos é utilizada como a arma mais adequada para discordar de quem tem uma perceção diferente da sua e tal está a ser aceite quase como se fosse natural. Ora, como pode ser natural e não apenas gratuita, a exibição de tal agressividade por parte de indivíduos que, como animais que são, não veem ameaçada, pelos adversários, a sua sobrevivência?
Como se não bastasse a imensa dor que a guerra nos inflige alguns à nossa volta nas redes sociais, nos canais televisivos e no parlamento, teimam em se mostrar como os únicos donos da verdade e em vez de se porem, como seres fazedores da paz (que afirmam ser), a debater ideias e a arquitetar soluções para os problemas , optam por colocar de fora as suas garras imaginárias e fazendo uso de uma agressividade simbólica atacam dissimuladamente as suas “vítimas”. Fazem-no talvez por ser mais rápido ofender do que debater ideias e assim, aos poucos, vão construindo a guerra.
Li algures que o objetivo habitual da agressão é dominar as outras pessoas para que fiquem menos capazes de expressar e defender as suas ideias e o convite que a sociedade atual faz aos cidadãos para que cada um pense em primeiro lugar em si e nos seus interesses serve na perfeição esse objetivo. A este propósito, vi no relatório do Estado Global das Democracias que Portugal mantém o estatuto de democracia estável, mas apresenta um défice na participação da sociedade civil e eu concordo!
Tenho observado que esta mania de nos sentirmos donos da verdade nos acrescenta arrogância e nos tira a humildade necessária para, com outros, de outras tribos, com outras formações e ideais, nos organizarmos com o objetivo de resolver os problemas da nossa comunidade. Acredito até que resida neste nosso “comodismo burguês” – identifiquei o problema, resolvam-no – a génese da maior debilidade apontada à democracia em Portugal, a “democracia direta”.
Quem nos governa conhece a nossa passividade e por isso, naturalmente, sabe que pode prescindir da nossa opinião! E eis a prova! Eis a prova de como, ao longo dos anos, os discursos carregados de agressividade dos que se apresentam como donos da verdade, para além de estimularem mais agressividade, de pouco a nós, cidadãos, nos têm servido. O que nos servirá então? Simples!
Comecemos assim: na nossa comunidade temos um problema, vamos resolvê-lo! E calha mesmo bem, como se diz, “ouro sobre azul”: é Natal e ele convida-nos a mudar para sermos melhores pessoas. Mudemos então e como pessoas e cidadãos daqui e do Mundo, comemoremos o início dessas nossas mudanças!