Opinião
Pena
São raríssimos os artistas de rua espontâneos, por múltiplas razões certamente uma das quais aprendi este Verão
As férias servem também para ouvir e ver outras coisas, outras cidades e outros países. Para quem possa e assim o entenda, evidentemente. Essas pessoas, e não interessa para aqui se são poucas ou muitas, regressam certamente com a cabeça cheia de episódios, sons, sabores e imagens.
E creio não me enganar muito se disser que todos eles já assistiram a um espectáculo informal de rua e não se esqueceram disso.
Na verdade um pouco por toda a parte, solitariamente, músicos ou contorcionistas, bonecreiros ou homens estátua, bailarinos ou mágicos trazem para a rua um bocadinho daquilo que gostam de fazer. E as pessoas de sua livre vontade deixam uma pequena nota de apreciação em forma de algum dinheiro dentro do chapéu.
É sempre uma coisa muito bonita. E não falo de grandes cidades apenas, falo de pequenas e médias cidades que ganham sempre uma alegria nova, por efémera que seja.
Em Leiria não é assim. São raríssimos os artistas de rua espontâneos, por múltiplas razões certamente uma das quais aprendi este Verão. História rápida que se conta assim: tenho um amigo que é contorcionista. Ficava em Leiria algumas semanas e quis fazer na rua o que sabe fazer tão bem. Só por gozo pelo prazer de partilhar e ganhar uns tostões se lhos quisessem dar.
Como é preciso requerer à autarquia uma licença de ocupação de espaço público ele assim fez. Escreveu um mail e aguardou a devida resposta. Até aqui parece uma história civilizada.
Entretanto foram passando os dias e depois as semanas. O meu amigo entretanto foi-se embora para outras paragens e a Câmara nunca lhe respondeu. Nem sim nem não, nada. Aquilo que quero sublinhar com esta história porém não é do foro da má educação ou do desprezo pelos corretos procedimentos administrativos, é de outra natureza.
Enquanto não se entender verdadeiramente, e agir em conformidade, que as práticas culturais são verdadeiramente distintas das outras atividades económicas e se insistir em tratar como igual aquilo que é diferente não conseguimos vitalizar o tecido cultural e incentivar a iniciativa independente de apoios autárquicos.
É pena.