Opinião
Pesticidas e fertilizantes químicos no vale do Lis? Não, obrigado
Uma vez aberta a porta ao dinheiro da agro-química é muito difícil voltar a fechá-la
Está a decorrer um investimento público, no valor de dezoito milhões de euros, que vai dotar o perímetro de rega vale do Lis de um novo e eficaz sistema de rega canalizada.
Trata-se de uma área com 2.175 hectares situada nas margens férteis do rio Lis - uma área de grande importância económica e ambiental para toda a região, e que praticamente se encontra toda em Reserva Ecológica Nacional.
Infelizmente a experiência recente nos regadios em Portugal demonstra que a rega canalizada atrai investidores oportunistas que são especializados em explorar abusivamente as regiões e o investimento público, embora anunciando-se como “amigos” do ambiente e criadores de riqueza.
Este tipo de investidores procura territórios onde consiga, sem qualquer respeito pela sociedade ou pelo ambiente, instalar áreas de produção agro-química mantidas com pesticidas e fertilizantes químicos.
Os métodos de produção agro-química poluem os solos, poluem os rios, poluem os aquíferos subterrâneos, poluem o mar e as praias, destroem os ecossistemas e a biodiversidade e exploram mão-de-obra desqualificada, quase sempre em esquemas de escravatura de migrantes pobres.
Leiria deve ter em conta os casos de destruição económica, ecológica e social que têm sucedido em outros regadios para não repetir os mesmos erros no Vale do Lis.
Veja-se por exemplo os regadios do Alqueva ou o do Sudoeste Alentejano, regiões onde hoje os autarcas e as associações de cidadãos denunciam as aldeias de contentores, a poluição do solo e da água, as praias interditas a banhos, e que nada conseguem mudar… é que uma vez aberta a porta ao dinheiro da agro-química é muito difícil voltar a fechá-la.
O Vale do Lis tem solos com alta fertilidade que são excelentes para fazer agricultura com mão-de-obra qualificada, com fertilizantes orgânicos e em equilíbrio com o ecossistema do vale.
Com a rega canalizada no vale do Lis a região de Leiria tem uma oportunidade única para desenvolver um sistema de produção alimentar próprio de uma região desenvolvida, ou seja: local (os alimentos não fazem longas viagens); seguro (alimentos sem pesticidas); autónomo e soberano (não depende da importação de alimentos, de pesticidas ou de fertilizantes);
O Vale do Lis vai ser mais um regadio de mão-de-obra desqualificada e de poluição agro-química ou vai ser o celeiro sustentável da região de Leiria?