Portagens na política ou a política das portagens

A suspensão das portagens, ainda que temporária e apenas para veículos pesados, na A19 e no antigo IC36 é, finalmente, uma boa notícia para a região de Leiria e para o Mosteiro da Batalha, que vê abrir-se um sinal de esperança depois de décadas a absorver fumos e vibrações das viaturas que atravessam diariamente o IC2.

É uma medida que pode, por fim, alinhar o discurso político com a preservação de um património que o país diz admirar, mas que tantas vezes parece ignorar.

Desde pelo menos 1983, ano em que o Mosteiro foi reconhecido como Património Mundial da UNESCO, que se tem reclamado o desvio do trânsito das imediações do monumento. Pelo meio, constituíram-se movimentos, aprovaram-se recomendações parlamentares e promoveram-se estudos, mas a circulação rodoviária por ali tem continuado a passar, como se todos aceitassem que o ruído e a poluição fizessem parte daquele cenário.​​

A construção da A19, que ficou concluída entre 2010 e 2011, em particular o troço entre São Jorge e Leiria Sul, parecia, à partida, uma excelente alternativa para afastar o tráfego automóvel de uma das mais belas obras da arquitectura portuguesa e europeia. Mas a introdução de portagens naquela via, rapidamente a transformou numa estrada quase fantasma, com evidentes prejuízos para a preservação do Mosteiro.

Após a aprovação em Assembleia da República da proposta apresentada pelo Partido Socialista, com a votação favorável do Chega, os discursos oficiais encheram-se de palavras como “passo importante”, “janela entreaberta” e “mitigação de impactos”, enquanto se anunciava mais um estudo para avaliar “os potenciais efeitos negativos do tráfego rodoviário sobre o Mosteiro da Batalha e as medidas de mitigação necessárias”.

Recordamos, que em 2019, foi aprovada na Assembleia da República uma recomendação ao Governo (PS), pedindo a eliminação das portagens na A19, no troço da variante da Batalha, para diminuir a circulação automóvel junto ao Mosteiro. A medida, apresentada pelo partido “Os Verdes”, mereceu os votos favoráveis de vários partidos, entre eles o PSD, então na bancada da oposição. Na altura, o PS votou contra. Mudam-se os governos, mudam-se as prioridades.