Opinião

Portugal em chamas: planeamento e prevenção

23 ago 2025 11:28

Um país com florestas desordenadas, monoculturas inflamáveis e ausência de gestão, é um país ansioso que espera, continuadamente, pelo desastre 

Portugal volta a enfrentar dias e noites de incêndios que consomem milhares de hectares, com destruição do meio ambiente, de casas, de produções agrícolas, de infraestruturas públicas. Também o turismo, que representa uma parte significativa da nossa economia, sofre um duro golpe com a perda das paisagens naturais que atraem visitantes: as florestas, os montes, os trilhos.

Há sonhos perdidos, para quem investiu em casas de alojamento local, e vê agora um interior cinzento, cada vez mais agreste, vazio e irremediavelmente, despovoado. O turismo acaba por ser uma vítima silenciosa destas tragédias. Paisagens únicas, áreas protegidas e aldeias desaparecem. E quando se perde o que é autêntico, perdem-se visitantes, receitas e emprego.

Combater o fogo é vital, mas não basta. É preciso atuar. O ordenamento do território é a primeira linha de defesa. Um país com florestas desordenadas, monoculturas inflamáveis e ausência de gestão, é um país ansioso que espera, continuadamente, pelo desastre.

Segundo notícia do Público, a área ardida em 2025 é 17 vezes superior à de 2024. Um número que ilustra de forma dramática a dimensão do problema e a urgência em agir. A prevenção não pode ser retórica. Precisa de ações claras: faixas de contenção limpas; mosaicos de uso do solo, alternando agricultura, pastorícia e floresta; incentivos à agricultura para manter o território vivo; benefícios fiscais para proprietários que cumpram boas práticas; formação e sensibilização permanentes das comunidades.

Mas a prevenção não dispensa meios de resposta rápida e eficaz. É preciso mais equipas de sapadores e bombeiros, mais meios aéreos, mais vigilância e maior capacidade de mobilização. Não podemos continuar a contar que a chuva ou o vento resolvam o que a estratégia não preveniu. Os bombeiros e as populações locais, que enfrentam as chamas com coragem e sacrifício, merecem mais do que aplausos: precisam de recursos, segurança e reconhecimento.

Proteger o território é proteger vidas, mas também a nossa economia e imagem no mundo. Sem paisagens preservadas e comunidades vivas, não há turismo sustentável. E sem turismo, muitos territórios do interior perdem a última âncora que os mantém habitados. E as perguntas são simples: Quem é que vai passar férias em territórios todos queimados e quanto tempo teremos de esperar até que a natureza volte a crescer no seu esplendor?

O futuro exige escolhas. Ou investimos no planeamento, gestão ativa da floresta e reforço de meios, ou continuaremos a viver este drama todos os anos. Prevenir custa menos do que reconstruir.

Precisamos que quando o mundo olha para Portugal, veja um destino turístico seguro, autêntico e resiliente, e não um país repetidamente em chamas. 

Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990