Opinião

Turismo, tradição e sustentabilidade: um equilíbrio urgente

10 mai 2025 16:31

Preservar os recursos não é apenas proteger a natureza. É cuidar da herança cultural viva 

Estamos no primeiro quarto do século XXI embalados pela velocidade e pela promessa de um mundo sem fronteiras. Viajamos com facilidade, consumimos destinos como produtos e transformamos culturas em experiências embaladas. Mas nesta modernidade, em que tudo parece acessível e onde procuramos o tradicional e o autêntico, ocorre o paradoxo de sermos cúmplices da erosão de destinos e culturas.

A tradição, longe de ser um dado natural, foi construída em oposição à modernidade. Só falamos em preservar porque já existiu ameaça ou mesmo destruição. E é neste ponto que o turismo entra como protagonista. Sendo simultaneamente motor de desenvolvimento, força transformadora e dínamo de valorização de culturas, ele é também o elemento que contribui para a descaracterização.

Pensemos no turista que procura a diferença, o especial, o intocado, mas quando chega aos locais, numa presença massiva, acaba a transformar o que veio procurar. Muitos países, em especial os mais vulneráveis economicamente, viram no turismo a única forma viável de gerar rendimento, captar investimento e projetar-se no mundo global. Património cultural, festividades, tradições e modos de vida tornaram-se recursos estratégicos.

A autenticidade passou a ser um produto comercializado, empacotado, para consumo rápido. E os que vivem nesses territórios veem-se, muitas vezes, reduzidos ao papel de figurantes num teatro de representações culturais destinadas ao “outro”. A sustentabilidade dos recursos e dos destinos, significa, aqui, muito mais do que compensações de carbono ou boas práticas ambientais.

É imperativo incluir a sustentabilidade social e cultural — a proteção das comunidades, a salvaguarda da identidade, a escuta ativa das populações. O desenvolvimento turístico que ignora as dinâmicas locais, que transforma tradições em espetáculo e que apaga a complexidade dos lugares, está assente num “pilar de sabão, mergulhado dentro de água”.

Preservar os recursos não é apenas proteger a natureza. É cuidar da herança cultural viva, garantir que o passado continua a ter futuro e que a memória não se converte num museu. É permitir que as populações sejam protagonistas e não apenas cenário. A tradição tem valor quando é vivida, não quando é desenhada...

Urge repensar os modelos turísticos com base nas dinâmicas territoriais, na ética, no consumo e na responsabilidade intergeracional. Sabemos que estas palavras e estes conceitos não vendem. Mas, não se esqueçam que o turismo só fará sentido quando minimizar a força do desgaste e tornarse um agente de sustentabilidade, identidade e esperança.

Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990