Editorial

Propostas aéreas

28 jul 2022 10:00

Será que é possível transformar uma base NATO numa infra-estrutura aberta a aviões militares, comerciais e de combate aos incêndios?

Os dois últimos entrevistados ouvidos pelo JORNAL DE LEIRIA dominam áreas diferentes no que à protecção da floresta diz respeito, mas coincidem ambos na mesma conclusão: continuam a faltar medidas estruturais para proteger as áreas florestais dos incêndios.

Na semana passada, António Nunes, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, alertou-nos para o facto das medidas de fundo na prevenção poderem demorar cinco, dez, ou 15 anos a surtir efeito.

Mas ressalvou, logo de seguida, que na região Centro, pelos vistos, os cinco anos já não valem, pois “passaram cinco anos sobre 2017 e continuamos a ter a floresta da mesma forma”.

Esta semana, Paulo Pimenta de Castro, que já foi perito no Conselho Consultivo das Florestas e da Cortiça junto da Comissão Europeia, reforça esta ideia ao afirmar: “Do ponto de vista macro, não houve medidas [estruturais] após os incêndios de 2017, tirando as faixas de gestão de combustível, que são um penso rápido e incompleto”.

Se consultarmos os dados do Balcão Único do Prédio, uma plataforma criada há cinco anos para registo voluntário das propriedades rústicas, depois dos grandes incêndios de Pedrogão Grande, verificamos que, ao dia 27 de Julho de 2022 (ontem), no concelho de Leiria, pouco mais de 1% dos proprietários de terrenos tinha aderido a este cadastro.

Entre as 186.549 matrizes identificadas, apenas 1.902 estavam georreferenciadas. Um número demasiado baixo, que pode estar relacionado com o facto de o município de Leiria só ter aderido ao programa este ano.

Ainda assim, o presidente da autarquia leiriense, Gonçalo Lopes, lançou esta terça-feira um novo desafio ao Governo: criar um centro nacional de apoio aos meios aéreos de combate aos incêndios na Base Aérea de Monte Real.

A ideia, avançada em reunião do executivo camarário e propalada através das redes sociais, angariou desde logo apoiantes incondicionais, comentários de cepticismo e uma ou outra crítica mais velada.

O mérito da proposta terá agora o seu tempo de maturaçãomas para já, Gonçalo Lopes dá um sinal claro de que está a abandonar a luta pela abertura daquela base militar ao tráfego aéreo civil, uma bandeira agitada pelos políticos da região, há mais de duas décadas.

Ou será que é possível transformar uma base NATO numa infra-estrutura aberta a aviões militares, comerciais e de combate aos incêndios?