Opinião

Que faremos com esta paz?

18 out 2025 16:27

Fiquei inquieto com o que vi os meus colegas músicos em Portugal dizerem e fazerem sobre a Palestina

Não foi, nem será, fácil esta paz entre Israel e Palestina. A radicalização afasta resoluções. Mas, quem vive a guerra todos os dias daria tudo — até um pedaço do seu coração, da sua terra — para que os filhos deixem de morrer.

Fiquei inquieto com o que vi os meus colegas músicos em Portugal dizerem e fazerem sobre a Palestina. Tomaram partido sem olhar a factos. 

Apequenaram quem falava em paz ou ousava mencionar os massacrados de 7 de Outubro — num festival de música onde qualquer um de nós podia estar. Vi-os nas redes da flotilha, nos palcos de gala e na televisão com vestidos feitos de keffiyeh, a brilharem sob os holofotes, esquecidos do Bataclan, da arena de Manchester, de Ansbach, de Moscovo.

Li crónicas a chamar  “pequenos de espírito” aos que não assinavam certas petições. Vi acusações de cumplicidade com o IDF a quem não marchava nas manifs. Não vi, uma só vez, luto pelo 7/10. Nem (ainda) um post pela paz que hoje se conseguiu (9/10). Ao contrário da maioria deles, eu já estive em Israel. 

E o que vi em Telavive surpreendeu-me porque, mesmo em conflito aberto, vi harmonia, mais evidente que não nas ruas, nos cafés, nas vidas. 
Ao contrário deles, estive em comunicação com o meu amigo Kobi, israelita cristão, vocalista de uma banda metal (Orphaned Land) que tem uma história de conciliação inédita e bonita com o mundo árabe (que eles não conhecem), e ele contava-me como ia para o abrigo com as filhas duas vezes por dia, enquanto explodiam rockets de TNT.

Paz não é faccionar . É aproximar. Tal como a música

Que farão eles, que dirão eles, elas, agora desta paz? 

Estaremos atentos.