Opinião
Que sorte tem Leiria
Sem a criação de públicos não há cultura, porque não há massa crítica
Agora que, de repente, Setembro já vai a meio, a miudagem já voltou à escola, vocês já quase se esqueceram das férias e o Natal está aí mesmo ao virar da esquina, já podemos falar de coisas sérias.
Ou, pelo menos, de coisas que deveriam ser levadas muito a sério.
Vou tentar ser breve (de qualquer das formas, o limite de caracteres a isso obriga) e, de forma telegráfica, atirar para a mesa dois ou três temas de relevo para umas boas tertúlias pós-Verão no tasco da vossa preferência.
Ou, pelo menos, temas que um tipo que faz agora 30 anos e deixou de ser um residente a tempo inteiro acha que deveriam/poderiam interessar aos seus queridos conterrâneos.
1. Espero, meus caros leirienses, que estejam finalmente a conseguir entender a importância crucial e transversal do trabalho desenvolvido pela Fade In ao longo dos últimos 20 anos.
Um labor que vai muito além das etiquetas de estilo e género que normalmente nos habituámos a associar aos eventos que a Associação de Acção Cultural, liderada por Carlos Matos, organiza.
A estratégia de fundo da Fade in, assente na reflexão sobre as questões geracionais que deveriam preocupar qualquer promotor cultural e descrita pelo Carlos na crónica que publicou neste mesmo jornal no início do mês, merece não só a vossa mais profunda atenção, como todos os vossos mais rasgados elogios.
Sem a criação de públicos não há cultura, porque não há massa crítica. Sem a renovação constante desses mesmos públicos, não há cultura, não há massa crítica e não há futuro.
Que sorte tem Leiria de ter gente desta a pensar para fazer e não a fazer sem pensar.
2. Espero também que estejam muito contentes com o anunciado arranque das obras que vão criar uma plataforma artística nos pisos inferiores do antigo paço episcopal.
Para que estratégias sérias de promoção cultural sejam sustentáveis e perdurem, os equipamentos têm de ser muitos, variados, disponíveis e adaptados a quem deles necessita.
3. Como não fui suficientemente breve, tem de ficar para a próxima, mas deixo pelo menos duas linhas: mobilidade, “super ilhas” e o que poderia significar para Leiria uma real e verdadeira mudança do paradigma urbano, libertando ruas para os peões e limitando de forma drástica a circulação automóvel no centro da cidade.
Bem sei que é missão impossível, mas, caros conterrâneos, pelo menos pensem nisso.