Opinião
Reflexões sobre empresas públicas
Portugal transformou-se no maior conglomerado de empresas da Europa de economia não planificada
Em 1975, de um momento para o outro, o Estado português viu-se proprietário de 1300 empresas. As nacionalizações visavam os maiores grupos industriais e empresas de sectores estratégicos para qualquer economia.
O universo de nacionalizações foi vasto: bancos, seguradoras, empresas industriais e de consumo, desde empresas de energia, transportes, cervejas, empresas de cereais, pasta de papel, indústria naval, indústria química, tabacos, mas também comunicação social, imobiliário, turismo e, por arrasto, nacionalizações caricatas como barbearias, restaurantes, alguns hotéis, modestas fábricas de transformação e um cortejo muito pitoresco de pequenas e médias empresas espalhadas pelo País que eram empresas participadas pelos grandes grupos nacionalizados.
No final desta euforia, Reflexões sobre empresas públicas .
No entanto, Pedro Lains, investigador do Instituto de Ciências Sociais (ICS) e coordenador da História Económica de Portugal,1700-2000, citado pelo Diário de Notícias de 4/8/2005, opinou: “Em Portugal tem-se olhado de mais para as motivações ideológicas das nacionalizações. É necessário observar também as circunstâncias concretas da economia que, naquela altura, criaram as condições para que fosse dado esse passo.”
Na realidade, quanto mais o processo revolucionário em curso (PREC) avançava, mais se agravava a situação económica do País, com todos os indicadores no “vermelho”. Face à situação complexa, procuraram-se soluções adequadas, a partir da elaboração do Plano Melo Antunes, um documento razoável e moderado, aprovado em Conselho de Ministros duas semanas antes do 11 de Março, inclusivamente pelo PCP, embora “torcendo o nariz”.
No entanto, na rua, os sindicatos iniciaram imediatamente manifestações exigindo a estatização da economia. No dia a seguir ao 11 de Março, a situação evoluiu para as nacionalizações a esmo.
O desmantelamento deste imenso universo empresarial do Estado e a recomposição de uma economia de mercado em Portugal, só começou a avançar com o início do Governo de maioria absoluta de Cavaco Silva, em finais de 1985, pela mão do chamado “ministro as privatizações” Miguel Cadilhe.
A preparação deste processo foi longa e cautelosa, até por razões constitucionais. Mas, em 1989, foi reprivatizada a Unicer, hoje Super Bock Group, e logo a seguir o Banco Totta e Açores, hoje integrado no grupo Santander.
Miguel Cadilhe declarou ao Expresso Economia o seguinte: “Ser Estado e ser empresário é em grande parte algo incompatível, é uma péssima sobreposição de estados de espírito, pensamentos, capacidades de gestão e de investimento”. Concordo inteiramente. Olhemos para a novela de mau gosto que se passa na TAP e veremos que o que se passa está lapidarmente contido nas palavras de Miguel Cadilhe.